quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Editorial
O ano de 2008 foi bastante turbulento. Quem, no início dele, imaginaria George W. Bush estatizando empresas ou o eleitorado americano ousando votar em um presidente negro e mais liberal que os demais candidatos cotados para o cargo?
Antes mesmo de se retirar, o ano velho ainda deixou mais uma marca, como se a crise financeira já não bastasse: em 27 de dezembro, três dias após a publicação da primeira edição deste blog, eclodiu mais um conflito no Oriente Médio, a envolver Israel e o Hamas, grupo que controla a faixa de Gaza e que é considerado terrorista pelos israelenses.
Tudo isso faz com que seja difícil desejar um feliz ano-novo, tendo em vista as perspectivas de guerra de proporções ainda desconhecidas. As coisas pareceriam menos piores se não fosse o silêncio de Obama, que, entre outras coisas, anunciou que manterá o secretário de defesa do atual governo, notadamente belicista.
Nesta segunda edição, trazemos dois artigos sobre o conflito em Gaza, um de Denis Araujo e outro de Max Gimenes, e uma imagem comentada pelo presidente do CA, Marcio Moraes, sobre as manifestações que agitaram a Grécia.
A cobertura da posse do presidente estadunidense, que ocorrerá no dia 20 de janeiro, está confirmada para a edição de fevereiro de O Diplomático, como nos assegurou Paulo Meirelles, já a postos nos EUA. Se depender da opinião dos leitores deste blog, as primeiras medidas de Obama no cargo serão: “Retirar imediatamente as tropas estadunidenses do Iraque e do Afeganistão” (50%), “Acabar com o embargo a Cuba e dialogar com o regime de Raúl Castro” (39%) e “Fechar a prisão de Guantánamo em Cuba” (28%).
Para matar a curiosidade de quem sempre se perguntou o porquê da demissão de Raimundo Vasconcelos como coordenador do curso, há a parte final da entrevista com ele. E também a versão da supervisão acadêmica, dada por e-mail pelo professor Alexandre Estolano.
Boa leitura!
Bate-papo Internacionalista
Entrevista a Max Gimenes
Confira abaixo a parte final da entrevista concedida por e-mail pelo ex-coordenador do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Raimundo Ferreira de Vasconcelos e Vasconcelos, afastado da instituição no fim do ano passado em um processo, digamos, nada transparente.
Nesta segunda parte, Raimundo nos diz quais são as suas expectativas para os estudantes de RI em uma conjuntura de crise global e em meio à eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA. E assegura: “em melhores mãos [o curso de RI da BA] não poderia estar”, afirmação esta que tem se mostrado verdadeira e assim desejamos que continue.
Ele conta também, é claro, a sua versão sobre o que o levou a ser demitido, fato que até hoje desperta a curiosidade de inúmeros alunos e que é alvo de muitos boatos. A instituição à época alegara o abono de faltas, o que não engana a ninguém por mais ingênuo que seja.
O Diplomático entrou em contato com a Supervisão Acadêmica e a resposta dela você pode ler ao fim da entrevista.
***
O Diplomático – A Supervisão Acadêmica alegou à época o abono de faltas como motivo de sua demissão, o que nos parece uma desculpa no mínimo insuficiente. O que verdadeiramente o levou a ser demitido?
Raimundo – Oficialmente, alegaram o abono de faltas que todos já sabem, e que sequer chegou a se confirmar; alegaram ainda que contribuí para a não realização da matrícula de uma aluna que vinha transferida de outra IES. Neste último caso, a confusão é enorme. Creio que a referida aluna ainda esteja na IES; trata-se da Camila Aquino, do turno matutino (atual AM8RI), a qual deixou de se matricular na DP de Sociologia porque perdera o prazo de inscrição. Tentei ajudá-la até onde me cabia, mas a Secretaria-Geral atrapalhou-se e ainda colocou toda a culpa sobre mim. A aluna deixou de se inscrever no prazo regulamentar e foi passar as férias de fim de ano com os pais numa cidade do interior.
Ao retornar no semestre seguinte, falou comigo sobre a possibilidade de ainda realizar a referida inscrição. Assim, eu contatei a secretária-geral, a qual me informara, via telefone, não ser possível; perguntei-lhe se a reitoria autorizaria e, como resposta, ela acreditava que não, mas mesmo assim resolvi tentar, encaminhando um e-mail. Fiquei sempre cobrando um retorno e nada, enquanto a Camila também me cobrava. Para minha surpresa, na última cobrança que fiz à secretaria-geral, e já havia se passado bem umas 3 semanas, obtive a resposta de que a reitoria havia concedido um novo prazo para inscrição, mas que já havia se encerrado, pois durara menos de uma semana. Indaguei por e-mail à secretária-geral o porquê da Camila não ter sido avisada do novo prazo e mais uma surpresa me veio com a resposta: ela (secretária-geral) havia encaminhado o comunicado via e-mail e segundo a própria, uns 200 alunos haviam conseguido se inscrever (exceto a Camila). Indaguei porque eu, enquanto coordenador, não havia sido avisado do novo prazo e eis a resposta no e-mail: “esse assunto não lhe diz respeito, mas tão-somente à secretaria e aos alunos”. Ora, eu não era alheio ao tema, mas, com efeito, matrícula é atribuição sim da secretaria. Como o próprio juiz trabalhista reconheceu: se eu não tinha poderes para abonar faltas, como o teria para concretizar matrículas? Alegaram até que eu permiti que a senhora Mãe da Camila ouvisse, de viva voz, um diálogo telefônico entre mim e a secretária-geral, o que também não é verdade, visto que não dispunha de viva-voz em minha residência, quando atendi ao telefonema da secretaria. Enfim, a Camila conhece toda a história e poderá confirmá-la.
Afora isso, restam-me conjecturas e especulações, tentando também entender o que de fato motivou minha demissão e por justa causa. Sei que não era o coordenador da preferência de meu imediato superior hierárquico, o qual me encarava mais como um concorrente do que como subordinado que de fato eu era; jamais atendeu a meus telefonemas com a desculpa de estar ora em reunião, ora ausente do local de trabalho; uma simples quebra do sigilo telefônico comprovará isso.
Demissão consumada, tentei também falar via telefone com o reitor que também não me atendeu; e nisso há mais uma surpresa para mim, pois várias vezes o ouvi autodenominar-se transparente e democrático.
Por sua vez, os demais coordenadores não demonstravam simpatia pelo curso de RI, muito pelo contrário. Para citar apenas um episódio, lembro-me bem da matéria sobre o referido curso inserida no Jornal Belas Artes, segunda edição, a qual foi motivo de chiliques por parte de dois dos demais coordenadores, sentindo-se diminuídos e/ou ofuscados pela mesma, embora não o afirmassem com todas as letras. Tais relatos servem apenas para ilustrar o ambiente hostil com o qual me deparava.
Tal hostilidade era extensiva até mesmo a funcionários que resolvessem cursar RI; foi o caso do Evandro Almeida que, em dado ano, deixou de ganhar o prêmio como melhor funcionário-bolsista e o fato de cursar RI não foi mera coincidência. Até ocorrer a minha demissão, ele também estava jogado na IES, sem chefia, sem função definida, praticamente restrito a recolher lixo no departamento de manutenção. Eis o preço por ele a pagar por ter cursado RI. Até tentei ajudá-lo, mas não houve tempo hábil para tanto.
Enfim, quem sabe um dia saibamos os reais e verdadeiros motivos dessa, ao menos para mim, surpreendente demissão, ainda mais por justa causa. Só sei que, como nas demais organizações, prego que se destaca leva porrada, vitimado pela incapacidade, inveja, arrogância e outros sentimentos e atitudes menos edificantes.
O Diplomático – O senhor se arrepende de alguma coisa que fez durante o tempo em que foi coordenador do curso de RI na Belas Artes? O que mudaria se pudesse voltar no tempo?
Não me arrependo de nada, em absoluto. Faria tudo exatamente do mesmo modo que fiz. Nem mesmo me arrependo de ter passado pela Belas Artes, ao contrário, regozijo-me pelas realizações que ousei empreender; tivesse eu uma carga horária maior, teria feito ainda mais.
Para se ter uma idéia, ingressei com carga horária de 16h só na coordenação e, no primeiro semestre de 2006, ela foi reduzida para 9h, passando então a elevar-se gradativa e semestralmente conforme o número de alunos no Curso (a IES alega que tal redução ocorrera de comum acordo, o que chega a ser hilário, o empregador propor redução de salário e o empregado falar que está de pleno acordo). Não obstante a reduzida carga horária, ainda consegui elaborar e propor acordos de cooperação internacional na área acadêmica; atitude essa pioneira para a Belas Artes, primeiro com IES do Canadá, seguida por outra na cidade do Porto (Portugal). O terceiro acordo desse tipo deu bem mais trabalho, negociado com uma IES da Argentina. Após chegar ao consenso com a instituição platina, encaminhei cópia do contrato – em espanhol – à supervisão acadêmica para ser apreciado e assinado. O fato é que o acordo enviado acabou emperrando no departamento criado por aquela supervisão (sua encarregada detinha 15h de carga horária só para cuidar do departamento), sob alegação de que deveria se estender a todo o centro universitário. Mera desculpa, pois os acordos por mim negociados eram extensivos a todos os cursos e, na realidade, a dificuldade residia mesmo no fato de que tal encarregada do recém-criado departamento de curadoria/parcerias não conseguia ler em espanhol. Perdeu-se assim a terceira e última parceria internacional por mim negociada para o(s) curso(s).
O Diplomático – A lógica de mercado, caracterizada por objetivar principalmente o lucro e de acordo com a qual o cliente tem sempre razão, atrapalha a autonomia dos professores e a promoção de uma educação de qualidade?
Raimundo – Lamentavelmente, há uma forte pressão para transformar o ensino privado em mercadoria e o alunado em cliente, o que acaba por interferir na relação docente/discente. O problema não reside no lucro em si, o qual não sempre impede o ensino de qualidade, haja vista excelentes IES de caráter privado: ESPM, FGV, Ibmec etc. Não obstante, há limites nessa autonomia, visto que deve existir um maior compromisso docente com uma boa proposta pedagógica, com as diretrizes educacionais e institucionais, e com o próprio alunado, procurando fornecer-lhe os ensinamentos e instrumentos para atuação no mercado de trabalho e em seu viver, ou seja, esforçar-se para formar um cidadão e não apenas um trabalhador. Em resumo, o ensino com qualidade embasa-se no seguinte tripé: bom projeto pedagógico, excelente quadro docente e uma boa infra-estrutura, com destaque para a biblioteca, sem esquecer ainda da profissionalização na gestão educacional, devendo ser ainda transparente e democrática de fato.
O Diplomático – Quais perspectivas tem hoje o curso de RI? Como a crise financeira global e a eleição de Barack Obama podem influenciar nesse sentido?
Raimundo – Comecemos aqui pelo final. Podemos dizer que o mundo escolheu o Obama e no meu entender foi a melhor escolha; ocorre que ele se elegeu para governar os EUA, ou seja, defenderá sua política externa e internacional. Por conta disso, muitas expectativas serão frustradas, pois não devemos esperar, por exemplo, os EUA menos protecionistas ou tão mais multilateralistas quanto gostaríamos, mas por certo menos belicosos e talvez mais flexíveis enquanto negociadores, ao menos enquanto estiverem fragilizados pela crise atual que, diga-se de passagem, é passageira, após o que o império do norte ressurgirá com mais força, pois ainda é de longe a maior economia do mundo. Já se disse com propriedade e a história já nos confirmou que todo império perecerá e com os ianques não será diferente, mas ainda demorará para que tal aconteça; não disponho de competência para tamanha estimativa de prazo. O fato é que seus rivais mais próximos, União Européia e China ainda não reúnem condições de substituí-los na cena mundial. O sistema monetário e financeiro internacional clama por reformulações regulamentatórias, assim como o papel das instituições de Bretton Woods também carecem de atualização, principalmente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, já que a Organização Mundial do Comércio (OMC) possui diálogo mais próximo da realidade, embora não esteja de todo regulamentada. Nesse sentido, visualizo relevante papel para os cursos de RI, os quais têm muito a contribuir para fomentar o reordenamento de um mundo mais estável, mais pacífico, mais democrático e mais harmonioso, embora não se elimine de todo os conflitos, sejam eles de interesse, sejam de concepção. E isto mantém a importância dos cursos de RI, na medida em que esses conflitos estão para a atuação do internacionalista assim como a escassez está para a atuação do economista, ou seja, o mundo jamais prescindirá desses dois profissionais com escopo e visão suficientes para entender, descrever, explicar e por vezes até antecipar sua dinâmica e funcionamento.
O Diplomático – O senhor conhece bem o atual coordenador de RI da Belas Artes, Sidney Ferreira Leite. Diria que o curso está em boas mãos?
Raimundo – Sentia-me orgulhoso do quadro docente de RI altamente qualificado, seja pela titulação, seja pela experiência acumulada. Impossível listar a todos neste breve espaço e, assim, sublinho apenas uma magnífica contratação realizada no terceiro semestre e em dose dupla: reforçavam o curso os professores Nilson Araújo e Luisa Moura; além de respeitáveis profissionais e caráter exemplar, possuem ainda o perfil de “gente fina, elegante e sincera”. E do mesmo naipe adveio o professor Sidney Leite, além de excelente profissional e grande figura humana, é do tipo a quem se pode confiar um cheque em branco. Em melhores mãos o Curso não poderia estar.
***
O outro lado
Como devem fazer todos aqueles que prezam pela democracia, pela tolerância e que perseguem incansavelmente a justiça, O Diplomático foi atrás do outro lado, da versão da instituição para saber o que ela tinha a dizer a respeito do episódio da demissão do professor Raimundo.
Para tanto, encaminhamos um e-mail com duas perguntinhas bastante objetivas (também feitas ao Raimundo) ao supervisor acadêmico da BA, o professor Alexandre Estolano: 1. “O que efetivamente levou à demissão do professor Raimundo?” e 2. “A lógica de mercado, caracterizada por objetivar principalmente o lucro e de acordo com a qual o cliente tem sempre razão, atrapalha a autonomia dos professores e a promoção de uma educação de qualidade?”
Ele respondeu ao e-mail, mas dirigindo-se ao aluno Max, e não ao CA, do qual afirmou desconhecer a existência.
Quanto ao primeiro questionamento, Alexandre Estolano afirmou “que a decisão de afastamento do professor é de autonomia da direção da entidade mantenedora, nos termos de seu estatuto e da constituição federal, que garante autonomia administrativa à Instituição de Ensino Superior”. E prossegue: “nunca ví [sic] entre as atribuições de um CA ou DA a apuração de atos que só dizem respeito a administração [sic] da instituição”.
Ora, é claro que a demissão do coordenador de um curso é do interesse dos alunos desse curso. Se o dever de um CA é representar os alunos, então também é sua obrigação descobrir as motivações do desligamento, ainda mais quando este é levado a cabo de modo obscuro. Se o professor Estolano nunca viu um CA apurar casos como esse, é porque nunca conheceu um de verdade, talvez seja a primeira vez. A BA deve, sim, satisfações. Se não ao CA, ao menos à justiça, e o processo por lá está em andamento.
Em relação à última questão, o supervisor acadêmico diz que “demandaria uma longa análise e não uma abordagem simplista como a apresentada na questão”. É uma maneira grosseira de fugir da pergunta, mas não chega a surpreender. Diz ele, no entanto, que uma resposta preliminar seria “não”, por mais incrível que possa parecer.
A resposta preliminar e definitiva seria “sim” e quem nos mostra isso é a própria BA, atualmente com algumas salas cheias em que os alunos não conseguem aprender e nas quais o professor se estressa e mal consegue ensinar. Turmas fechadas no período da manhã e alunos desse turno empurrados para aulas à noite, geralmente muito cheias. O que leva a isso senão a busca pelo lucro? Será mesmo que ela não atrapalha em nada?
Sem contar a forma como alguns docentes são pressionados por alunos que, por pagarem, acham que têm sempre razão e, portanto, devem ter suas vontades satisfeitas.
Seria interessante ver onde ficaria a autonomia do professor caso o coitado ousasse de alguma forma contrariar a supervisão acadêmica e sua visão oblíqua de educação. Nunca ficaríamos sabendo, afinal o supervisor acadêmico se esconde por atrás do véu da “autonomia administrativa” para tomar atitudes que podem tranqüilamente ser consideradas arbitrárias.
Confira abaixo a parte final da entrevista concedida por e-mail pelo ex-coordenador do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Raimundo Ferreira de Vasconcelos e Vasconcelos, afastado da instituição no fim do ano passado em um processo, digamos, nada transparente.
Nesta segunda parte, Raimundo nos diz quais são as suas expectativas para os estudantes de RI em uma conjuntura de crise global e em meio à eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA. E assegura: “em melhores mãos [o curso de RI da BA] não poderia estar”, afirmação esta que tem se mostrado verdadeira e assim desejamos que continue.
Ele conta também, é claro, a sua versão sobre o que o levou a ser demitido, fato que até hoje desperta a curiosidade de inúmeros alunos e que é alvo de muitos boatos. A instituição à época alegara o abono de faltas, o que não engana a ninguém por mais ingênuo que seja.
O Diplomático entrou em contato com a Supervisão Acadêmica e a resposta dela você pode ler ao fim da entrevista.
***
O Diplomático – A Supervisão Acadêmica alegou à época o abono de faltas como motivo de sua demissão, o que nos parece uma desculpa no mínimo insuficiente. O que verdadeiramente o levou a ser demitido?
Raimundo – Oficialmente, alegaram o abono de faltas que todos já sabem, e que sequer chegou a se confirmar; alegaram ainda que contribuí para a não realização da matrícula de uma aluna que vinha transferida de outra IES. Neste último caso, a confusão é enorme. Creio que a referida aluna ainda esteja na IES; trata-se da Camila Aquino, do turno matutino (atual AM8RI), a qual deixou de se matricular na DP de Sociologia porque perdera o prazo de inscrição. Tentei ajudá-la até onde me cabia, mas a Secretaria-Geral atrapalhou-se e ainda colocou toda a culpa sobre mim. A aluna deixou de se inscrever no prazo regulamentar e foi passar as férias de fim de ano com os pais numa cidade do interior.
Ao retornar no semestre seguinte, falou comigo sobre a possibilidade de ainda realizar a referida inscrição. Assim, eu contatei a secretária-geral, a qual me informara, via telefone, não ser possível; perguntei-lhe se a reitoria autorizaria e, como resposta, ela acreditava que não, mas mesmo assim resolvi tentar, encaminhando um e-mail. Fiquei sempre cobrando um retorno e nada, enquanto a Camila também me cobrava. Para minha surpresa, na última cobrança que fiz à secretaria-geral, e já havia se passado bem umas 3 semanas, obtive a resposta de que a reitoria havia concedido um novo prazo para inscrição, mas que já havia se encerrado, pois durara menos de uma semana. Indaguei por e-mail à secretária-geral o porquê da Camila não ter sido avisada do novo prazo e mais uma surpresa me veio com a resposta: ela (secretária-geral) havia encaminhado o comunicado via e-mail e segundo a própria, uns 200 alunos haviam conseguido se inscrever (exceto a Camila). Indaguei porque eu, enquanto coordenador, não havia sido avisado do novo prazo e eis a resposta no e-mail: “esse assunto não lhe diz respeito, mas tão-somente à secretaria e aos alunos”. Ora, eu não era alheio ao tema, mas, com efeito, matrícula é atribuição sim da secretaria. Como o próprio juiz trabalhista reconheceu: se eu não tinha poderes para abonar faltas, como o teria para concretizar matrículas? Alegaram até que eu permiti que a senhora Mãe da Camila ouvisse, de viva voz, um diálogo telefônico entre mim e a secretária-geral, o que também não é verdade, visto que não dispunha de viva-voz em minha residência, quando atendi ao telefonema da secretaria. Enfim, a Camila conhece toda a história e poderá confirmá-la.
Afora isso, restam-me conjecturas e especulações, tentando também entender o que de fato motivou minha demissão e por justa causa. Sei que não era o coordenador da preferência de meu imediato superior hierárquico, o qual me encarava mais como um concorrente do que como subordinado que de fato eu era; jamais atendeu a meus telefonemas com a desculpa de estar ora em reunião, ora ausente do local de trabalho; uma simples quebra do sigilo telefônico comprovará isso.
Demissão consumada, tentei também falar via telefone com o reitor que também não me atendeu; e nisso há mais uma surpresa para mim, pois várias vezes o ouvi autodenominar-se transparente e democrático.
Por sua vez, os demais coordenadores não demonstravam simpatia pelo curso de RI, muito pelo contrário. Para citar apenas um episódio, lembro-me bem da matéria sobre o referido curso inserida no Jornal Belas Artes, segunda edição, a qual foi motivo de chiliques por parte de dois dos demais coordenadores, sentindo-se diminuídos e/ou ofuscados pela mesma, embora não o afirmassem com todas as letras. Tais relatos servem apenas para ilustrar o ambiente hostil com o qual me deparava.
Tal hostilidade era extensiva até mesmo a funcionários que resolvessem cursar RI; foi o caso do Evandro Almeida que, em dado ano, deixou de ganhar o prêmio como melhor funcionário-bolsista e o fato de cursar RI não foi mera coincidência. Até ocorrer a minha demissão, ele também estava jogado na IES, sem chefia, sem função definida, praticamente restrito a recolher lixo no departamento de manutenção. Eis o preço por ele a pagar por ter cursado RI. Até tentei ajudá-lo, mas não houve tempo hábil para tanto.
Enfim, quem sabe um dia saibamos os reais e verdadeiros motivos dessa, ao menos para mim, surpreendente demissão, ainda mais por justa causa. Só sei que, como nas demais organizações, prego que se destaca leva porrada, vitimado pela incapacidade, inveja, arrogância e outros sentimentos e atitudes menos edificantes.
O Diplomático – O senhor se arrepende de alguma coisa que fez durante o tempo em que foi coordenador do curso de RI na Belas Artes? O que mudaria se pudesse voltar no tempo?
Não me arrependo de nada, em absoluto. Faria tudo exatamente do mesmo modo que fiz. Nem mesmo me arrependo de ter passado pela Belas Artes, ao contrário, regozijo-me pelas realizações que ousei empreender; tivesse eu uma carga horária maior, teria feito ainda mais.
Para se ter uma idéia, ingressei com carga horária de 16h só na coordenação e, no primeiro semestre de 2006, ela foi reduzida para 9h, passando então a elevar-se gradativa e semestralmente conforme o número de alunos no Curso (a IES alega que tal redução ocorrera de comum acordo, o que chega a ser hilário, o empregador propor redução de salário e o empregado falar que está de pleno acordo). Não obstante a reduzida carga horária, ainda consegui elaborar e propor acordos de cooperação internacional na área acadêmica; atitude essa pioneira para a Belas Artes, primeiro com IES do Canadá, seguida por outra na cidade do Porto (Portugal). O terceiro acordo desse tipo deu bem mais trabalho, negociado com uma IES da Argentina. Após chegar ao consenso com a instituição platina, encaminhei cópia do contrato – em espanhol – à supervisão acadêmica para ser apreciado e assinado. O fato é que o acordo enviado acabou emperrando no departamento criado por aquela supervisão (sua encarregada detinha 15h de carga horária só para cuidar do departamento), sob alegação de que deveria se estender a todo o centro universitário. Mera desculpa, pois os acordos por mim negociados eram extensivos a todos os cursos e, na realidade, a dificuldade residia mesmo no fato de que tal encarregada do recém-criado departamento de curadoria/parcerias não conseguia ler em espanhol. Perdeu-se assim a terceira e última parceria internacional por mim negociada para o(s) curso(s).
O Diplomático – A lógica de mercado, caracterizada por objetivar principalmente o lucro e de acordo com a qual o cliente tem sempre razão, atrapalha a autonomia dos professores e a promoção de uma educação de qualidade?
Raimundo – Lamentavelmente, há uma forte pressão para transformar o ensino privado em mercadoria e o alunado em cliente, o que acaba por interferir na relação docente/discente. O problema não reside no lucro em si, o qual não sempre impede o ensino de qualidade, haja vista excelentes IES de caráter privado: ESPM, FGV, Ibmec etc. Não obstante, há limites nessa autonomia, visto que deve existir um maior compromisso docente com uma boa proposta pedagógica, com as diretrizes educacionais e institucionais, e com o próprio alunado, procurando fornecer-lhe os ensinamentos e instrumentos para atuação no mercado de trabalho e em seu viver, ou seja, esforçar-se para formar um cidadão e não apenas um trabalhador. Em resumo, o ensino com qualidade embasa-se no seguinte tripé: bom projeto pedagógico, excelente quadro docente e uma boa infra-estrutura, com destaque para a biblioteca, sem esquecer ainda da profissionalização na gestão educacional, devendo ser ainda transparente e democrática de fato.
O Diplomático – Quais perspectivas tem hoje o curso de RI? Como a crise financeira global e a eleição de Barack Obama podem influenciar nesse sentido?
Raimundo – Comecemos aqui pelo final. Podemos dizer que o mundo escolheu o Obama e no meu entender foi a melhor escolha; ocorre que ele se elegeu para governar os EUA, ou seja, defenderá sua política externa e internacional. Por conta disso, muitas expectativas serão frustradas, pois não devemos esperar, por exemplo, os EUA menos protecionistas ou tão mais multilateralistas quanto gostaríamos, mas por certo menos belicosos e talvez mais flexíveis enquanto negociadores, ao menos enquanto estiverem fragilizados pela crise atual que, diga-se de passagem, é passageira, após o que o império do norte ressurgirá com mais força, pois ainda é de longe a maior economia do mundo. Já se disse com propriedade e a história já nos confirmou que todo império perecerá e com os ianques não será diferente, mas ainda demorará para que tal aconteça; não disponho de competência para tamanha estimativa de prazo. O fato é que seus rivais mais próximos, União Européia e China ainda não reúnem condições de substituí-los na cena mundial. O sistema monetário e financeiro internacional clama por reformulações regulamentatórias, assim como o papel das instituições de Bretton Woods também carecem de atualização, principalmente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, já que a Organização Mundial do Comércio (OMC) possui diálogo mais próximo da realidade, embora não esteja de todo regulamentada. Nesse sentido, visualizo relevante papel para os cursos de RI, os quais têm muito a contribuir para fomentar o reordenamento de um mundo mais estável, mais pacífico, mais democrático e mais harmonioso, embora não se elimine de todo os conflitos, sejam eles de interesse, sejam de concepção. E isto mantém a importância dos cursos de RI, na medida em que esses conflitos estão para a atuação do internacionalista assim como a escassez está para a atuação do economista, ou seja, o mundo jamais prescindirá desses dois profissionais com escopo e visão suficientes para entender, descrever, explicar e por vezes até antecipar sua dinâmica e funcionamento.
O Diplomático – O senhor conhece bem o atual coordenador de RI da Belas Artes, Sidney Ferreira Leite. Diria que o curso está em boas mãos?
Raimundo – Sentia-me orgulhoso do quadro docente de RI altamente qualificado, seja pela titulação, seja pela experiência acumulada. Impossível listar a todos neste breve espaço e, assim, sublinho apenas uma magnífica contratação realizada no terceiro semestre e em dose dupla: reforçavam o curso os professores Nilson Araújo e Luisa Moura; além de respeitáveis profissionais e caráter exemplar, possuem ainda o perfil de “gente fina, elegante e sincera”. E do mesmo naipe adveio o professor Sidney Leite, além de excelente profissional e grande figura humana, é do tipo a quem se pode confiar um cheque em branco. Em melhores mãos o Curso não poderia estar.
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O outro lado
Como devem fazer todos aqueles que prezam pela democracia, pela tolerância e que perseguem incansavelmente a justiça, O Diplomático foi atrás do outro lado, da versão da instituição para saber o que ela tinha a dizer a respeito do episódio da demissão do professor Raimundo.
Para tanto, encaminhamos um e-mail com duas perguntinhas bastante objetivas (também feitas ao Raimundo) ao supervisor acadêmico da BA, o professor Alexandre Estolano: 1. “O que efetivamente levou à demissão do professor Raimundo?” e 2. “A lógica de mercado, caracterizada por objetivar principalmente o lucro e de acordo com a qual o cliente tem sempre razão, atrapalha a autonomia dos professores e a promoção de uma educação de qualidade?”
Ele respondeu ao e-mail, mas dirigindo-se ao aluno Max, e não ao CA, do qual afirmou desconhecer a existência.
Quanto ao primeiro questionamento, Alexandre Estolano afirmou “que a decisão de afastamento do professor é de autonomia da direção da entidade mantenedora, nos termos de seu estatuto e da constituição federal, que garante autonomia administrativa à Instituição de Ensino Superior”. E prossegue: “nunca ví [sic] entre as atribuições de um CA ou DA a apuração de atos que só dizem respeito a administração [sic] da instituição”.
Ora, é claro que a demissão do coordenador de um curso é do interesse dos alunos desse curso. Se o dever de um CA é representar os alunos, então também é sua obrigação descobrir as motivações do desligamento, ainda mais quando este é levado a cabo de modo obscuro. Se o professor Estolano nunca viu um CA apurar casos como esse, é porque nunca conheceu um de verdade, talvez seja a primeira vez. A BA deve, sim, satisfações. Se não ao CA, ao menos à justiça, e o processo por lá está em andamento.
Em relação à última questão, o supervisor acadêmico diz que “demandaria uma longa análise e não uma abordagem simplista como a apresentada na questão”. É uma maneira grosseira de fugir da pergunta, mas não chega a surpreender. Diz ele, no entanto, que uma resposta preliminar seria “não”, por mais incrível que possa parecer.
A resposta preliminar e definitiva seria “sim” e quem nos mostra isso é a própria BA, atualmente com algumas salas cheias em que os alunos não conseguem aprender e nas quais o professor se estressa e mal consegue ensinar. Turmas fechadas no período da manhã e alunos desse turno empurrados para aulas à noite, geralmente muito cheias. O que leva a isso senão a busca pelo lucro? Será mesmo que ela não atrapalha em nada?
Sem contar a forma como alguns docentes são pressionados por alunos que, por pagarem, acham que têm sempre razão e, portanto, devem ter suas vontades satisfeitas.
Seria interessante ver onde ficaria a autonomia do professor caso o coitado ousasse de alguma forma contrariar a supervisão acadêmica e sua visão oblíqua de educação. Nunca ficaríamos sabendo, afinal o supervisor acadêmico se esconde por atrás do véu da “autonomia administrativa” para tomar atitudes que podem tranqüilamente ser consideradas arbitrárias.
Agenda Diplomática
Este é o espaço dedicado às atividades do mês a que todos nós devemos estar atentos. Aproveitando o potencial de interação que um blog oferece, a Agenda Diplomática será um espaço sempre em construção, que cada um poderá completar por meio de comentários e/ou e-mails. Fiquem à vontade!
De 27 de janeiro a 1º de fevereiro, em Belém (PA): Fórum Social Mundial 2009
O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço aberto de encontro – plural, diversificado, não-governamental e não-partidário – que estimula de forma descentralizada o debate, a reflexão, a formulação de propostas, a troca de experiências e a articulação entre organizações e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mais solidário, democrático e justo.
Muitos alunos irão e podem ajudar a conseguir ônibus para quem tem interesse de ir mas ainda não acertou nenhum meio de transporte. Se você quer ir e ainda não sabe como, escreva um e-mail para
Para saber mais e/ou fazer a sua inscrição, acesse: http://www.fsm2009amazonia.org.br.
Dia 9 de fevereiro: Volta às aulas de todos os cursos do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Portanto, podemos ir pensando desde já na forma como recepcionaremos os nossos futuros colegas de curso. Qualquer idéia para o trote e para integrar a bixarada é bem-vinda.
Opinião Internacionalista
Para ver o seu artigo publicado nesta secção, escreva para nós (novaordemacademica@gmail.com). Como assunto da mensagem, coloque a palavra “Opinião”
A Saideira de George W. Bush
Por Denis Araujo (autor do blog O Silêncio Cotidiano)
No final do ano de 2008, o mundo foi sacudido por uma enxurrada de grandiosos acontecimentos. As eleições presidenciais dos EUA, o desmantelamento da trégua entre Israel e Hamas, problemas diplomáticos entre Brasil (sim, o Brasil mesmo, quem diria) e Equador, sem contar a crescente xenofobia no Paraguai e a real enxurrada ocorrida em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Entre outros acontecimentos. Muitos outros.
Certos fatos ocorrem no dia, no momento preciso e depois se encerram. O incêndio começa e é apagado pelos bombeiros. A lâmpada acende com um simples toque no interruptor e apaga da mesma maneira. Tudo fica registrado nos jornais, nas revistas, nos livros, na internet e na história. Mas não é o que ocorre em uma explosão. Não uma explosão qualquer dessas granadas de mão que derrubam um muro, tampouco um míssil teleguiado que destrói uma casa. Estou falando dessas grandiosas bombas de fabricação caseira, mal calculadas quimicamente e que nem mesmo o fabricante tem a noção do perigo que tem em mãos. Uma bomba que, ao explodir, libera milhares de faíscas e estilhaços que vão por todos os lados, atingindo tudo e a todos. Sim, senhoras e senhores. Estou falando de uma bomba chamada “George W. Bush”.
No céu da faixa de Gaza não brilharam e nem brilham fogos de artifício e chuva de prata. Por lá o que se vê são rajadas de tiros, grandiosa quantidade de fumaça preta resultante de centenas de explosões provocadas por poderosos mísseis de Israel... E dor, muita dor. O sofrimento incalculável novamente toma conta do povo palestino, este que acreditou na ilusão do cessar-fogo promovido entre a nação judaica e o Hamas. Infelizmente o mundo cairá em mais uma mentira: o governo israelense continuará culpando os militantes palestinos por terem que tomar a atitude da guerra. E também continuará com o jogo sujo de acharem que possuem o direito de fazer o que estão fazendo.
Mas será que ninguém irá detê-los? A resposta é simples: as centenas de mortes que estão sendo provocadas poderiam, sim, ter sido evitadas. Logicamente que não por conta de um acordo de paz promovido entre as partes da guerra, mas sim por uma decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. A Líbia (único país árabe com representatividade no conselho) solicitou, com urgência, a votação e aprovação de sua proposta de cessar-fogo na região (no caso, a aparente primeira proposta para mediar o caso). E teria sido simples e unânime, se não fosse o veto dos EUA. Obviamente que já era de se esperar uma reação desta magnitude. A cadeira americana no Conselho de Segurança tem o direito de vetar este tipo de proposta. E mesmo se não possuíssem tal direito, teriam o feito da mesma maneira. E por quê? Simplesmente porque o presidente Bush resolveu tomar sua saideira, já que a proposta inicial de trégua não continha todos os anseios americanos e israelenses. Tenho total certeza de que, cedo ou tarde, o conflito irá cessar com uma trégua promovida após a aprovação de uma proposta bem feita e que possua todos os tópicos de interesse comum entre EUA e Israel. A guerra será pausada, mas não encerrada. Além disso, nada justificará a não-aprovação imediata da primeira proposta de trégua lançada, afinal muitos inocentes teriam sido salvos. Os mais de 700 mortos poderiam, hoje, ser a metade ou menos ainda.
No próximo dia vinte de janeiro ocorrerá a cerimônia de posse do recém-eleito Barack Obama, que ocupará o cargo de George na Casa Branca. Além das festividades programadas, também é aguardado o fim de um ciclo: o ciclo de um dos presidentes (se não o campeão) com menor aprovação popular de toda a história presidencial norte-americana. Muitos erros e equívocos marcam a passagem do republicano em todo o seu governo, que surpreendentemente, como num passe de mágica, durou mais de um mandato.
Mas o Sr. Bush, além de presidente, é um ser humano.
Afinal, é mais um dia na Casa Branca em Washington D.C. George acorda bem cedo para realizar o seu jogging diário. Volta para casa, dá um beijo nas crianças e na esposa. Toma seu café bem servido com ovos e bacon. Depois de uma boa ducha, seus criados o vestem, o penteiam e ajeitam sua gravata. E lá está o presidente americano, admirando a foto de seu pai em uma bela moldura no “hall of fame” presidencial, sonhando em como ficará a sua foto ao lado de tantas outras figuras célebres como Bill Clinton, JFK, Roosevelt, Lyndon Johnson, Abraham Lincoln, entre outros. Bush respira fundo, risca no calendário os dias que vão passando e lá está o dia vinte de janeiro circulado com uma caneta de tom avermelhado. Lá está o fatídico dia em que entregará seu posto ao democrata Barack Obama. “Fazer o quê”, não é mesmo, Seu Bush? Pois é, tudo o que acende apaga e tudo que era doce se acabou.
Mas é mais um dia na Casa Branca e nem tudo está perdido. Faltam poucos dias, então vamos viver estes como se fossem os últimos, não é mesmo Mister Bush? Claro que sim! Reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, vamos acompanhar bem de perto para que nada saia errado. O quê? Mortos na Palestina? Não. Israel? Mentira! Votar? Mas votar o quê? Um cessar-fogo? Depois de entender o que isso significa, Bush percebe que está no direito de vetar a pausa do conflito (entende-se este conflito como sendo um verdadeiro massacre). E é isso que os EUA fizeram. Vetaram. A Organização das Nações Unidas provou, mais uma vez, seu fracasso nas negociações e no impedimento de uma guerra, e mais uma vez o mundo e os palestinos ficaram a mercê das decisões norte-americanas. O que era uma rápida chuva de verão conseguiu se transformar em uma enorme tempestade.
Como um bebê que segura uma tesoura afiada, o presidente dos EUA provou, novamente, que não consegue medir a conseqüência dos seus atos. E se souber, comprovou sua eterna hipocrisia e de todo o seu governo, manchando também a imagem do seu povo, esta que não vai tão bem assim há um bom tempo. Pacotes e medidas econômicas para conter a crise são votadas às pressas e com aprovação de Bush, na tentativa de socorrer o seu país. Mas impedir a morte de tantos inocentes é algo que os EUA ainda não sabem fazer. Ou pior: talvez não queiram fazer.
Enquanto isso, é mais um dia na faixa de Gaza. Mais um dia de sofrimento inocente, mais um dia de explosões e mortes. George W. Bush tomou a sua saideira. E no momento somente podemos aguardar como o restante do mundo e os grandes líderes poderão lidar com esta guerra. E torceremos, esperançosos. Mas não somente pelo fim da guerra. Torceremos, também, para que Barack Obama dê um belo trago inicial, diferente do último de seu antecessor.
No final do ano de 2008, o mundo foi sacudido por uma enxurrada de grandiosos acontecimentos. As eleições presidenciais dos EUA, o desmantelamento da trégua entre Israel e Hamas, problemas diplomáticos entre Brasil (sim, o Brasil mesmo, quem diria) e Equador, sem contar a crescente xenofobia no Paraguai e a real enxurrada ocorrida em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Entre outros acontecimentos. Muitos outros.
Certos fatos ocorrem no dia, no momento preciso e depois se encerram. O incêndio começa e é apagado pelos bombeiros. A lâmpada acende com um simples toque no interruptor e apaga da mesma maneira. Tudo fica registrado nos jornais, nas revistas, nos livros, na internet e na história. Mas não é o que ocorre em uma explosão. Não uma explosão qualquer dessas granadas de mão que derrubam um muro, tampouco um míssil teleguiado que destrói uma casa. Estou falando dessas grandiosas bombas de fabricação caseira, mal calculadas quimicamente e que nem mesmo o fabricante tem a noção do perigo que tem em mãos. Uma bomba que, ao explodir, libera milhares de faíscas e estilhaços que vão por todos os lados, atingindo tudo e a todos. Sim, senhoras e senhores. Estou falando de uma bomba chamada “George W. Bush”.
No céu da faixa de Gaza não brilharam e nem brilham fogos de artifício e chuva de prata. Por lá o que se vê são rajadas de tiros, grandiosa quantidade de fumaça preta resultante de centenas de explosões provocadas por poderosos mísseis de Israel... E dor, muita dor. O sofrimento incalculável novamente toma conta do povo palestino, este que acreditou na ilusão do cessar-fogo promovido entre a nação judaica e o Hamas. Infelizmente o mundo cairá em mais uma mentira: o governo israelense continuará culpando os militantes palestinos por terem que tomar a atitude da guerra. E também continuará com o jogo sujo de acharem que possuem o direito de fazer o que estão fazendo.
Mas será que ninguém irá detê-los? A resposta é simples: as centenas de mortes que estão sendo provocadas poderiam, sim, ter sido evitadas. Logicamente que não por conta de um acordo de paz promovido entre as partes da guerra, mas sim por uma decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. A Líbia (único país árabe com representatividade no conselho) solicitou, com urgência, a votação e aprovação de sua proposta de cessar-fogo na região (no caso, a aparente primeira proposta para mediar o caso). E teria sido simples e unânime, se não fosse o veto dos EUA. Obviamente que já era de se esperar uma reação desta magnitude. A cadeira americana no Conselho de Segurança tem o direito de vetar este tipo de proposta. E mesmo se não possuíssem tal direito, teriam o feito da mesma maneira. E por quê? Simplesmente porque o presidente Bush resolveu tomar sua saideira, já que a proposta inicial de trégua não continha todos os anseios americanos e israelenses. Tenho total certeza de que, cedo ou tarde, o conflito irá cessar com uma trégua promovida após a aprovação de uma proposta bem feita e que possua todos os tópicos de interesse comum entre EUA e Israel. A guerra será pausada, mas não encerrada. Além disso, nada justificará a não-aprovação imediata da primeira proposta de trégua lançada, afinal muitos inocentes teriam sido salvos. Os mais de 700 mortos poderiam, hoje, ser a metade ou menos ainda.
No próximo dia vinte de janeiro ocorrerá a cerimônia de posse do recém-eleito Barack Obama, que ocupará o cargo de George na Casa Branca. Além das festividades programadas, também é aguardado o fim de um ciclo: o ciclo de um dos presidentes (se não o campeão) com menor aprovação popular de toda a história presidencial norte-americana. Muitos erros e equívocos marcam a passagem do republicano em todo o seu governo, que surpreendentemente, como num passe de mágica, durou mais de um mandato.
Mas o Sr. Bush, além de presidente, é um ser humano.
Afinal, é mais um dia na Casa Branca em Washington D.C. George acorda bem cedo para realizar o seu jogging diário. Volta para casa, dá um beijo nas crianças e na esposa. Toma seu café bem servido com ovos e bacon. Depois de uma boa ducha, seus criados o vestem, o penteiam e ajeitam sua gravata. E lá está o presidente americano, admirando a foto de seu pai em uma bela moldura no “hall of fame” presidencial, sonhando em como ficará a sua foto ao lado de tantas outras figuras célebres como Bill Clinton, JFK, Roosevelt, Lyndon Johnson, Abraham Lincoln, entre outros. Bush respira fundo, risca no calendário os dias que vão passando e lá está o dia vinte de janeiro circulado com uma caneta de tom avermelhado. Lá está o fatídico dia em que entregará seu posto ao democrata Barack Obama. “Fazer o quê”, não é mesmo, Seu Bush? Pois é, tudo o que acende apaga e tudo que era doce se acabou.
Mas é mais um dia na Casa Branca e nem tudo está perdido. Faltam poucos dias, então vamos viver estes como se fossem os últimos, não é mesmo Mister Bush? Claro que sim! Reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, vamos acompanhar bem de perto para que nada saia errado. O quê? Mortos na Palestina? Não. Israel? Mentira! Votar? Mas votar o quê? Um cessar-fogo? Depois de entender o que isso significa, Bush percebe que está no direito de vetar a pausa do conflito (entende-se este conflito como sendo um verdadeiro massacre). E é isso que os EUA fizeram. Vetaram. A Organização das Nações Unidas provou, mais uma vez, seu fracasso nas negociações e no impedimento de uma guerra, e mais uma vez o mundo e os palestinos ficaram a mercê das decisões norte-americanas. O que era uma rápida chuva de verão conseguiu se transformar em uma enorme tempestade.
Como um bebê que segura uma tesoura afiada, o presidente dos EUA provou, novamente, que não consegue medir a conseqüência dos seus atos. E se souber, comprovou sua eterna hipocrisia e de todo o seu governo, manchando também a imagem do seu povo, esta que não vai tão bem assim há um bom tempo. Pacotes e medidas econômicas para conter a crise são votadas às pressas e com aprovação de Bush, na tentativa de socorrer o seu país. Mas impedir a morte de tantos inocentes é algo que os EUA ainda não sabem fazer. Ou pior: talvez não queiram fazer.
Enquanto isso, é mais um dia na faixa de Gaza. Mais um dia de sofrimento inocente, mais um dia de explosões e mortes. George W. Bush tomou a sua saideira. E no momento somente podemos aguardar como o restante do mundo e os grandes líderes poderão lidar com esta guerra. E torceremos, esperançosos. Mas não somente pelo fim da guerra. Torceremos, também, para que Barack Obama dê um belo trago inicial, diferente do último de seu antecessor.
Ofensiva militar em Gaza: paz sem voz não é paz, é medo
Por Max Gimenes
Muita gente se pergunta por que há tanto tempo esse povo (entenda-se árabes e israelenses) brigam uns contra os outros. E esse é de fato um questionamento-chave, é o ponto de partida para que seja possível decifrar um conflito de raízes tão antigas e profundas.
Após duas semanas de conflito, que teve início em 27 de dezembro, contabiliza-se oficialmente 784 mortos do lado palestino, em sua grande maioria civis e incluindo na conta mulheres e crianças. Do lado israelense, as baixas somam 13. Sim, cerca de 60 vezes menos. Logo, é importante que chamemos desde o início o litígio de massacre, e não de “guerra”. Parece mais adequado ante a falta de paridade das forças e pelo fato de a incursão militar e os bombardeios serem praticados por apenas um dos lados.
Mas o Hamas não lança foguetes contra Israel? Não são terroristas malvados? Não se aproveitam dos civis inocentes utilizando-os como escudos para se defender dos ataques israelenses? Voltemos às raízes mencionadas no primeiro parágrafo.
É necessário entender o surgimento do Estado de Israel, ainda mais em tempos como o atual, em que jornalistas ignorantes ou mal-intencionados insistem em comparações esdrúxulas. Houve quem tentou usar exemplo com o Brasil no lugar de Israel e também quem pedisse para imaginarmos que Israel fosse a Argentina e Gaza, o Uruguai. Isso seria para facilitar a compreensão. Nada mais falso, as suposições citadas acima e veiculadas por grandes meios de comunicação só nos afastam de uma questão fundamental.
Na época dos regimes nazi-fascistas, houve o Holocausto – matança que deixou cerca de 6 milhões de judeus mortos. Porém, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a vitória dos aliados, as perseguições cessaram. Nesse cenário, ganhou força o Sionismo, movimento nacionalista judaico que defendia a criação de um Estado que abrigasse os judeus na região próxima de Sion, nos arredores de Jerusalém.
Em 1947, uma resolução da ONU determinou a criação do Estado de Israel na região onde hoje ele está localizado e que à época era ocupado por árabes. A área engloba Jerusalém, considerada santa para judeus e muçulmanos e que passaria à condição de objeto de disputas. A ONU também decidiu pela criação de um Estado Palestino, o que nunca ocorreu e o que nunca pareceu incomodar muito os governantes do Ocidente.
Da mesma forma que é justo pensar que os judeus de Israel já estão fartos com a histórica perseguição que seu povo sofreu, também é absolutamente compreensível que palestinos e árabes em geral tenham oferecido resistência ao reconhecimento do Estado israelense, criado na região por demanda externa (não havia uma movimento de judeus ali reivindicando um Estado) em uma conjuntura que precedeu a famigerada Guerra Fria, na qual Israel funcionaria como aliado importante do EUA. Quem lá vivia anteriormente foi desalojado. Após as ofensivas contra vizinhos, os israelenses ainda aumentaram o tamanho original de seu território, agravando a situação, o que precisa ser revertido para ser possível o início de uma negociação séria.
Para comparar usando a América Latina como exemplo, como querem certos articulistas da grande imprensa, seria mais fácil pensar em índios e portugueses. Que tal? A julgar pela ofensiva de Israel em Gaza, os objetivos se assemelham: subjugar e, na impossibilidade disso, dizimar o outro povo, chamado de “não-civilizado” para atenuar o peso de tantos cadáveres na consciência.
Certo, voltemos então ao Hamas. Esse agrupamento político-religioso ganhou a última eleição palestina. Portanto, trata-se de um governo eleito democraticamente e, como expressão do desejo do povo palestino, deve ser respeitado. As práticas do Hamas, se comparadas às dos governos estadunidense e israelense, tornam-se até angelicais. É mais lógico atribuir o rótulo de terrorista ao Partido Republicano dos EUA ou aos partidos da coalizão que governa Israel, sem dúvida alguma.
É possível paz com lançamento de foguetes pelo Hamas? Não. Mas o que causou essa reação? O controle da fronteira e o bloqueio à entrada de alimentos, remédios e energia em Gaza. Independentemente de qual das duas ações pareça mais assustadora, a segunda resulta em mais mortes e danos. Há relatos de palestinos mortos até de frio. O que evidencia que, ao contrário do que dizem alguns “analistas”, a trégua que vigorava até pouco tempo atrás não foi rompida pelo Hamas unilateralmente, ela já havia sido desrespeitada também por Israel.
Até o momento, escolas e a Universidade Islâmica de Gaza foram bombardeadas, o que é condenável até por leis de guerra. O governo de Israel quer destruir o Hamas, como se o partido laico – e absolutamente corrupto e ineficiente – Fatah fosse a solução. O fracasso dessa força moderada na busca por melhorar a condição palestina é justamente um dos motivos que levaram esse povo a radicalizar. Tentar combatê-los como tem sido feito leva a população civil da Palestina a se solidarizar com seus líderes e a protegê-los. Nada mais natural para um povo que está apostando suas últimas fichas.
E qual tem sido a reação pelo mundo afora? As notícias, apesar da proibição da imprensa em Gaza (atitude suspeita, não?), tem chegado aos quatro cantos do mundo. O presidente hiperativo da França, Nicholas Sarkozy, tentou articular com seu colega, o ditador líbio Muamar Kadafi, uma proposta de cessar-fogo. A dupla parece afinada, mas o projeto não emplacou.
Outro presidente a se destacar foi o impulsivo Hugo Chávez, que expulsou o embaixador de Israel e mais alguns membros da diplomacia israelense em represália à ofensiva sangrenta. Há quem veja exagero na atitude do mandatário venezuelano, mas exagerada é na verdade a passividade com a qual assistem ao massacre certos presidentes. Pressão diplomática como medida contra quase oito centenas de mortes (por enquanto) e contra crimes de guerra? Parece bastante razoável, e Chávez foi o único a fazê-lo, tornando-se sensação entre árabes e pacifistas. Boicote econômico seria outra arma com grande potencial.
Milhares de manifestantes também têm tomado as ruas das principais cidades ao redor do globo, inclusive do Brasil. Israel, com sua ação violenta, corre o rico de reavivar o anti-semitismo mundo afora. Combatem extremistas árabes utilizando como meio o extremismo à sua maneira. A intolerância é, sem dúvida, o principal obstáculo para a paz. Sem reconhecimento da legitimidade do Hamas, é improvável a aceitação por parte deste do Estado de Israel – que é uma realidade e cuja existência não pode ser ignorada.
O fato é que o atual governo de Israel, com o apoio dos EUA, quer enfraquecer os palestinos e torná-los perdedores conformados. Que pensem várias vezes antes de se levantarem contra o Império e seus representantes. Essa é a paz que atualmente busca Israel. Mas a isso se dá outro nome. Paz sem voz não é paz, é medo. E medo os palestinos não têm, irão certamente até o fim com a resistência. Até a última gota de sangue.
Muita gente se pergunta por que há tanto tempo esse povo (entenda-se árabes e israelenses) brigam uns contra os outros. E esse é de fato um questionamento-chave, é o ponto de partida para que seja possível decifrar um conflito de raízes tão antigas e profundas.
Após duas semanas de conflito, que teve início em 27 de dezembro, contabiliza-se oficialmente 784 mortos do lado palestino, em sua grande maioria civis e incluindo na conta mulheres e crianças. Do lado israelense, as baixas somam 13. Sim, cerca de 60 vezes menos. Logo, é importante que chamemos desde o início o litígio de massacre, e não de “guerra”. Parece mais adequado ante a falta de paridade das forças e pelo fato de a incursão militar e os bombardeios serem praticados por apenas um dos lados.
Mas o Hamas não lança foguetes contra Israel? Não são terroristas malvados? Não se aproveitam dos civis inocentes utilizando-os como escudos para se defender dos ataques israelenses? Voltemos às raízes mencionadas no primeiro parágrafo.
É necessário entender o surgimento do Estado de Israel, ainda mais em tempos como o atual, em que jornalistas ignorantes ou mal-intencionados insistem em comparações esdrúxulas. Houve quem tentou usar exemplo com o Brasil no lugar de Israel e também quem pedisse para imaginarmos que Israel fosse a Argentina e Gaza, o Uruguai. Isso seria para facilitar a compreensão. Nada mais falso, as suposições citadas acima e veiculadas por grandes meios de comunicação só nos afastam de uma questão fundamental.
Na época dos regimes nazi-fascistas, houve o Holocausto – matança que deixou cerca de 6 milhões de judeus mortos. Porém, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a vitória dos aliados, as perseguições cessaram. Nesse cenário, ganhou força o Sionismo, movimento nacionalista judaico que defendia a criação de um Estado que abrigasse os judeus na região próxima de Sion, nos arredores de Jerusalém.
Em 1947, uma resolução da ONU determinou a criação do Estado de Israel na região onde hoje ele está localizado e que à época era ocupado por árabes. A área engloba Jerusalém, considerada santa para judeus e muçulmanos e que passaria à condição de objeto de disputas. A ONU também decidiu pela criação de um Estado Palestino, o que nunca ocorreu e o que nunca pareceu incomodar muito os governantes do Ocidente.
Da mesma forma que é justo pensar que os judeus de Israel já estão fartos com a histórica perseguição que seu povo sofreu, também é absolutamente compreensível que palestinos e árabes em geral tenham oferecido resistência ao reconhecimento do Estado israelense, criado na região por demanda externa (não havia uma movimento de judeus ali reivindicando um Estado) em uma conjuntura que precedeu a famigerada Guerra Fria, na qual Israel funcionaria como aliado importante do EUA. Quem lá vivia anteriormente foi desalojado. Após as ofensivas contra vizinhos, os israelenses ainda aumentaram o tamanho original de seu território, agravando a situação, o que precisa ser revertido para ser possível o início de uma negociação séria.
Para comparar usando a América Latina como exemplo, como querem certos articulistas da grande imprensa, seria mais fácil pensar em índios e portugueses. Que tal? A julgar pela ofensiva de Israel em Gaza, os objetivos se assemelham: subjugar e, na impossibilidade disso, dizimar o outro povo, chamado de “não-civilizado” para atenuar o peso de tantos cadáveres na consciência.
Certo, voltemos então ao Hamas. Esse agrupamento político-religioso ganhou a última eleição palestina. Portanto, trata-se de um governo eleito democraticamente e, como expressão do desejo do povo palestino, deve ser respeitado. As práticas do Hamas, se comparadas às dos governos estadunidense e israelense, tornam-se até angelicais. É mais lógico atribuir o rótulo de terrorista ao Partido Republicano dos EUA ou aos partidos da coalizão que governa Israel, sem dúvida alguma.
É possível paz com lançamento de foguetes pelo Hamas? Não. Mas o que causou essa reação? O controle da fronteira e o bloqueio à entrada de alimentos, remédios e energia em Gaza. Independentemente de qual das duas ações pareça mais assustadora, a segunda resulta em mais mortes e danos. Há relatos de palestinos mortos até de frio. O que evidencia que, ao contrário do que dizem alguns “analistas”, a trégua que vigorava até pouco tempo atrás não foi rompida pelo Hamas unilateralmente, ela já havia sido desrespeitada também por Israel.
Até o momento, escolas e a Universidade Islâmica de Gaza foram bombardeadas, o que é condenável até por leis de guerra. O governo de Israel quer destruir o Hamas, como se o partido laico – e absolutamente corrupto e ineficiente – Fatah fosse a solução. O fracasso dessa força moderada na busca por melhorar a condição palestina é justamente um dos motivos que levaram esse povo a radicalizar. Tentar combatê-los como tem sido feito leva a população civil da Palestina a se solidarizar com seus líderes e a protegê-los. Nada mais natural para um povo que está apostando suas últimas fichas.
E qual tem sido a reação pelo mundo afora? As notícias, apesar da proibição da imprensa em Gaza (atitude suspeita, não?), tem chegado aos quatro cantos do mundo. O presidente hiperativo da França, Nicholas Sarkozy, tentou articular com seu colega, o ditador líbio Muamar Kadafi, uma proposta de cessar-fogo. A dupla parece afinada, mas o projeto não emplacou.
Outro presidente a se destacar foi o impulsivo Hugo Chávez, que expulsou o embaixador de Israel e mais alguns membros da diplomacia israelense em represália à ofensiva sangrenta. Há quem veja exagero na atitude do mandatário venezuelano, mas exagerada é na verdade a passividade com a qual assistem ao massacre certos presidentes. Pressão diplomática como medida contra quase oito centenas de mortes (por enquanto) e contra crimes de guerra? Parece bastante razoável, e Chávez foi o único a fazê-lo, tornando-se sensação entre árabes e pacifistas. Boicote econômico seria outra arma com grande potencial.
Milhares de manifestantes também têm tomado as ruas das principais cidades ao redor do globo, inclusive do Brasil. Israel, com sua ação violenta, corre o rico de reavivar o anti-semitismo mundo afora. Combatem extremistas árabes utilizando como meio o extremismo à sua maneira. A intolerância é, sem dúvida, o principal obstáculo para a paz. Sem reconhecimento da legitimidade do Hamas, é improvável a aceitação por parte deste do Estado de Israel – que é uma realidade e cuja existência não pode ser ignorada.
O fato é que o atual governo de Israel, com o apoio dos EUA, quer enfraquecer os palestinos e torná-los perdedores conformados. Que pensem várias vezes antes de se levantarem contra o Império e seus representantes. Essa é a paz que atualmente busca Israel. Mas a isso se dá outro nome. Paz sem voz não é paz, é medo. E medo os palestinos não têm, irão certamente até o fim com a resistência. Até a última gota de sangue.
Imagem do mês
Por Marcio Moraes do Nascimento
Infeliz Natal?
A Morte do jovem Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, assassinado por um policial em Atenas, no dia 6 de dezembro de 2008, desencadeou uma série de manifestações contra o governo grego. Com índices crescentes de desemprego entre a juventude, o combalido governo do país tenta se equilibrar no poder, mesmo com uma ínfima maioria no Congresso.
A polêmica e instigante imagem ao lado nos traz reflexões pertinentes, tanto em relação ao atual momento da política grega (a foto é de uma árvore de Natal em frente ao Parlamento grego) sacudida por manifestações que nos faz relembrar o “Maio de 1968” francês e indo mais além ao questionar de forma sistêmica um dos pilares da sociedade de consumo em plena crise econômica mundial.
A atual crise global e o conseqüente agravamento das questões sociais deve representar uma nova oportunidade de ascenso dos movimentos sociais, esse ator um tanto esquecido pela ortodoxia do pensamento em Relações Internacionais, portanto é aguardar para analisar como os atores das RI irão se comportar nesse novo cenário internacional.
Infeliz Natal?
A Morte do jovem Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, assassinado por um policial em Atenas, no dia 6 de dezembro de 2008, desencadeou uma série de manifestações contra o governo grego. Com índices crescentes de desemprego entre a juventude, o combalido governo do país tenta se equilibrar no poder, mesmo com uma ínfima maioria no Congresso.
A polêmica e instigante imagem ao lado nos traz reflexões pertinentes, tanto em relação ao atual momento da política grega (a foto é de uma árvore de Natal em frente ao Parlamento grego) sacudida por manifestações que nos faz relembrar o “Maio de 1968” francês e indo mais além ao questionar de forma sistêmica um dos pilares da sociedade de consumo em plena crise econômica mundial.
A atual crise global e o conseqüente agravamento das questões sociais deve representar uma nova oportunidade de ascenso dos movimentos sociais, esse ator um tanto esquecido pela ortodoxia do pensamento em Relações Internacionais, portanto é aguardar para analisar como os atores das RI irão se comportar nesse novo cenário internacional.
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