Por Denis Araujo (autor do blog O Silêncio Cotidiano)
No final do ano de 2008, o mundo foi sacudido por uma enxurrada de grandiosos acontecimentos. As eleições presidenciais dos EUA, o desmantelamento da trégua entre Israel e Hamas, problemas diplomáticos entre Brasil (sim, o Brasil mesmo, quem diria) e Equador, sem contar a crescente xenofobia no Paraguai e a real enxurrada ocorrida em Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Entre outros acontecimentos. Muitos outros.
Certos fatos ocorrem no dia, no momento preciso e depois se encerram. O incêndio começa e é apagado pelos bombeiros. A lâmpada acende com um simples toque no interruptor e apaga da mesma maneira. Tudo fica registrado nos jornais, nas revistas, nos livros, na internet e na história. Mas não é o que ocorre em uma explosão. Não uma explosão qualquer dessas granadas de mão que derrubam um muro, tampouco um míssil teleguiado que destrói uma casa. Estou falando dessas grandiosas bombas de fabricação caseira, mal calculadas quimicamente e que nem mesmo o fabricante tem a noção do perigo que tem em mãos. Uma bomba que, ao explodir, libera milhares de faíscas e estilhaços que vão por todos os lados, atingindo tudo e a todos. Sim, senhoras e senhores. Estou falando de uma bomba chamada “George W. Bush”.
No céu da faixa de Gaza não brilharam e nem brilham fogos de artifício e chuva de prata. Por lá o que se vê são rajadas de tiros, grandiosa quantidade de fumaça preta resultante de centenas de explosões provocadas por poderosos mísseis de Israel... E dor, muita dor. O sofrimento incalculável novamente toma conta do povo palestino, este que acreditou na ilusão do cessar-fogo promovido entre a nação judaica e o Hamas. Infelizmente o mundo cairá em mais uma mentira: o governo israelense continuará culpando os militantes palestinos por terem que tomar a atitude da guerra. E também continuará com o jogo sujo de acharem que possuem o direito de fazer o que estão fazendo.
Mas será que ninguém irá detê-los? A resposta é simples: as centenas de mortes que estão sendo provocadas poderiam, sim, ter sido evitadas. Logicamente que não por conta de um acordo de paz promovido entre as partes da guerra, mas sim por uma decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. A Líbia (único país árabe com representatividade no conselho) solicitou, com urgência, a votação e aprovação de sua proposta de cessar-fogo na região (no caso, a aparente primeira proposta para mediar o caso). E teria sido simples e unânime, se não fosse o veto dos EUA. Obviamente que já era de se esperar uma reação desta magnitude. A cadeira americana no Conselho de Segurança tem o direito de vetar este tipo de proposta. E mesmo se não possuíssem tal direito, teriam o feito da mesma maneira. E por quê? Simplesmente porque o presidente Bush resolveu tomar sua saideira, já que a proposta inicial de trégua não continha todos os anseios americanos e israelenses. Tenho total certeza de que, cedo ou tarde, o conflito irá cessar com uma trégua promovida após a aprovação de uma proposta bem feita e que possua todos os tópicos de interesse comum entre EUA e Israel. A guerra será pausada, mas não encerrada. Além disso, nada justificará a não-aprovação imediata da primeira proposta de trégua lançada, afinal muitos inocentes teriam sido salvos. Os mais de 700 mortos poderiam, hoje, ser a metade ou menos ainda.
No próximo dia vinte de janeiro ocorrerá a cerimônia de posse do recém-eleito Barack Obama, que ocupará o cargo de George na Casa Branca. Além das festividades programadas, também é aguardado o fim de um ciclo: o ciclo de um dos presidentes (se não o campeão) com menor aprovação popular de toda a história presidencial norte-americana. Muitos erros e equívocos marcam a passagem do republicano em todo o seu governo, que surpreendentemente, como num passe de mágica, durou mais de um mandato.
Mas o Sr. Bush, além de presidente, é um ser humano.
Afinal, é mais um dia na Casa Branca em Washington D.C. George acorda bem cedo para realizar o seu jogging diário. Volta para casa, dá um beijo nas crianças e na esposa. Toma seu café bem servido com ovos e bacon. Depois de uma boa ducha, seus criados o vestem, o penteiam e ajeitam sua gravata. E lá está o presidente americano, admirando a foto de seu pai em uma bela moldura no “hall of fame” presidencial, sonhando em como ficará a sua foto ao lado de tantas outras figuras célebres como Bill Clinton, JFK, Roosevelt, Lyndon Johnson, Abraham Lincoln, entre outros. Bush respira fundo, risca no calendário os dias que vão passando e lá está o dia vinte de janeiro circulado com uma caneta de tom avermelhado. Lá está o fatídico dia em que entregará seu posto ao democrata Barack Obama. “Fazer o quê”, não é mesmo, Seu Bush? Pois é, tudo o que acende apaga e tudo que era doce se acabou.
Mas é mais um dia na Casa Branca e nem tudo está perdido. Faltam poucos dias, então vamos viver estes como se fossem os últimos, não é mesmo Mister Bush? Claro que sim! Reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU, vamos acompanhar bem de perto para que nada saia errado. O quê? Mortos na Palestina? Não. Israel? Mentira! Votar? Mas votar o quê? Um cessar-fogo? Depois de entender o que isso significa, Bush percebe que está no direito de vetar a pausa do conflito (entende-se este conflito como sendo um verdadeiro massacre). E é isso que os EUA fizeram. Vetaram. A Organização das Nações Unidas provou, mais uma vez, seu fracasso nas negociações e no impedimento de uma guerra, e mais uma vez o mundo e os palestinos ficaram a mercê das decisões norte-americanas. O que era uma rápida chuva de verão conseguiu se transformar em uma enorme tempestade.
Como um bebê que segura uma tesoura afiada, o presidente dos EUA provou, novamente, que não consegue medir a conseqüência dos seus atos. E se souber, comprovou sua eterna hipocrisia e de todo o seu governo, manchando também a imagem do seu povo, esta que não vai tão bem assim há um bom tempo. Pacotes e medidas econômicas para conter a crise são votadas às pressas e com aprovação de Bush, na tentativa de socorrer o seu país. Mas impedir a morte de tantos inocentes é algo que os EUA ainda não sabem fazer. Ou pior: talvez não queiram fazer.
Enquanto isso, é mais um dia na faixa de Gaza. Mais um dia de sofrimento inocente, mais um dia de explosões e mortes. George W. Bush tomou a sua saideira. E no momento somente podemos aguardar como o restante do mundo e os grandes líderes poderão lidar com esta guerra. E torceremos, esperançosos. Mas não somente pelo fim da guerra. Torceremos, também, para que Barack Obama dê um belo trago inicial, diferente do último de seu antecessor.
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