quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Editorial
Antes de qualquer coisa, O Diplomático agradece a todos que ajudaram a eleger a atual gestão do Centro Acadêmico de Relações Internacionais, sem a qual não existiria este espaço. Muito obrigado!
Encaramos o desafio de criar um blog para que todos os alunos tivessem um espaço aberto para discussão e reflexão, em que pudessem publicar seus textos e tivessem assegurado o seu direito de livre expressão.
Esta é uma publicação autônoma e não terá, em nenhum momento, medo de praticar um jornalismo investigativo e responsável, ainda que amador. Além, é claro, de abrir espaço aos alunos para que digam aquilo que pensam. Independentemente de quem possamos incomodar, aqui será feito o que nos parecer justo e necessário.
Colegas estudantes de RI, sintam-se em casa. Comentem nos tópicos, votem nas enquetes, escrevam também o artigo de vocês. E, em seguida, não receiem em mandá-lo para nós. Eis o nosso e-mail: novaordemacademica@gmail.com. Sugestões para futuros entrevistados também são bem-vindas.
Nesta primeira edição, especial por muitos motivos, nos esforçamos para fazer jus à tarefa que nos foi confiada: representar todos os alunos de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Vocês poderão conferir a primeira parte de uma entrevista exclusiva com o ex-coordenador do curso, Raimundo Ferreira de Vasconcelos e Vasconcelos. E também dois artigos: um elaborado por Marcio Moraes, presidente do Centro Acadêmico, e o outro, por Leonardo Delmondes, membro da comissão eleitoral que organizou as últimas eleições para o CA.
O ano de 2009 promete trazer vários desafios e, como não acreditamos em Papai Noel, teremos de nos esforçar para compreendê-los e superá-los. Por fim, e ainda em tempo, um feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações! É o que deseja o Centro Acadêmico de Relações Internacionais Benário Prestes a todos os nossos colegas da BA.
Boa leitura!
Bate-papo Internacionalista
Entrevista a Max Gimenes
Em entrevista concedida por e-mail, o ex-coordenador do curso de Relações Internacionais da Belas Artes, Raimundo Ferreira de Vasconcelos e Vasconcelos, esclareceu alguns pontos obscuros de sua saída da Belas Artes.
O Diplomático preza pela transparência e nos parece justo abrir este espaço para que o principal responsável pelo nascimento e consolidação do nosso curso expresse o seu lado da história, que foi vergonhosamente abafado na ocasião.
Nesta primeira edição, o professor Raimundo, pernambucano de 49 anos, economista e educador com doutorado em sociologia (USP) e economia política (PUC-SP) e docente de MBA no Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), nos conta a sua atual dedicação à pesquisa para recuperar o tempo em que esteve dedicado quase integralmente ao nosso curso e revela também os desafios que enfrentou para que hoje nós possamos nos orgulhar de estudar em “um dos melhores cursos de RI da capital paulista”, nas palavras do próprio.
Na segunda parte da entrevista, que faremos suspense e deixaremos para a segunda edição, a ser publicada em janeiro de 2009, traremos a versão de Raimundo acerca de sua demissão e o que ele espera para o futuro dos estudantes de RI frente a mudanças como a crise financeira global e a eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA.
Como além de diplomáticos somos também democráticos, solicitamos por e-mail um esclarecimento sobre o ocorrido junto à Supervisão Acadêmica. A resposta, nada amistosa, não serve para elucidar o que aconteceu, mas revela a postura prepotente de quem se considera acima do bem e do mal. O que nos respondeu o supervisor acadêmico, que disse desconhecer a eleição da atual gestão do CA, também será mostrado com exclusividade na próxima edição.
***
O Diplomático – O que o senhor tem feito desde que deixou a Belas Artes?
Raimundo – Para minha grata satisfação, tenho lido bastante e pesquisado acerca da Economia Política Internacional, a fim de recuperar o “atraso” temporal, visto se tratar de atividades quase inconciliáveis com a coordenação de um curso, ainda mais com dedicação integral e exclusiva, embora com remuneração monetária parcial.
Tenho também me dedicado à elaboração de textos, proferido palestras sobre a crise global, realizado algumas consultorias acadêmicas e ministrado alguns módulos em cursos MBA.
O Diplomático – Conte-nos, por favor, os desafios enfrentados para abrir e consolidar o curso de RI na instituição em que estudamos.
Raimundo – Então senta que lá vem história...!
O primeiro desafio foi reverter a reprovação do MEC, pois o curso fora inicialmente montado por uma consultoria educacional, a qual o havia focado em Teoria da Administração e Gestão de Comércio Exterior, obtendo assim conceito D da equipe de avaliadores da Sesu/MEC.
A segunda visita dos examinadores do MEC (finais de 1999) durou dois dias e, desta feita, a implantação do curso já estava sob minha coordenação (free lancer). Tive, portanto, menos de 24h para modificar sua estrutura curricular em tempo hábil de ainda submetê-la ao crivo dos referidos examinadores, focando-a, desta feita, na Geopolítica com ênfase em três grandes áreas: Política Externa e Internacional, Integração Regional, e Direito Internacional (Público, Privado, Ambiental, Humanitário, além dos Tratados e Convenções Internacionais).
Perante essa nova proposta curricular, o então presidente da Comissão do MEC exclamou: “agora está com cara de RI... não fosse essa alteração, o curso seria reprovado pela segunda vez e em definitivo”. E, por conta do novo resultado apresentado, concederam-nos mais três meses de prazo, a fim de se fazer os demais ajustes no projeto pedagógico.
Era tudo o que eu precisava: mais prazo; iniciei então a formatar o novo projeto pedagógico, pautando-me pelos padrões de qualidade exigidos pelo MEC quanto à oferta de cursos. Eram 16 ou 17 itens ao todo só na esfera pedagógica; e, após examinados pelo MEC, foram considerados satisfatórios (no projeto anterior, elaborado pela consultoria, constavam como ora inexistente, ora insatisfatório cada um deles; parece que o maior acerto (único?) deles recaiu sobre a escolha do coordenador do curso, com o perdão da imodéstia.
É preciso sublinhar que a IES [Instituição de Ensino Superior] me disponibilizou, à época, toda sua infra-estrutura e staff, prometendo apoio pata tudo o que eu viesse a solicitar, concedendo-me inclusive liberdade para selecionar e contratar a equipe docente, a qual posso afirmar ter escolhido a dedo, apresentando ao MEC uma equipe docente para os dois primeiros semestres. Lembro-me aqui de mais uma exclamação do Prof. Dr. Henrique Altemani, o então presidente da Comissão do MEC: “o Raimundo está provando ser possível, em São Paulo, reunir uma boa equipe para lecionar Relações Internacionais”. Diga-se de passagem, a equipe docente obtivera conceito A já nessa fase de implantação do curso.
De um modo geral, a IES já possuía uma boa infra-estrutura; obtive então todo o apoio institucional para equipar a biblioteca de RI: foram adquiridos os livros-texto dos dois primeiros semestres; assinados os principais periódicos da área; adquiridos alguns vídeos em VHS. Também solicitei a cada docente contratado a entrega de um exemplar de sua dissertação e/ou tese, reforçando assim o acervo. Para resumir, o curso obteve aprovação do MEC com conceito A nessa fase de implantação (início de 1999; todavia, sua liberação pelo MEC só saiu em novembro de 2001, não havendo tempo hábil para divulgar e nem mesmo constar do edital do vestibular; daí ter iniciado somente no segundo semestre de 2002).
Ultrapassado o obstáculo da implantação, iniciava-se o da divulgação. E, nessa seara, a tradição se impunha. Como atrair a atenção para um curso novo, numa área até incipiente no Brasil – a exceção da UnB (1974), Universidade Estácio de Sá/RJ (nos anos 1980) e PUC-SP (que o iniciara em 1995) – e recém-acolhido por uma IES octogenária e de longa tradição acumulada no campo das artes. Era a pergunta que eu mesmo me fazia, à época.
Após refletir bastante, ocorreu-me a idéia de criar um slogan e, assim, surgia a bandeira brasileira ladeada pela da ONU seguidas do mote: “dialogando com o mundo”. Essa singela criação se juntou a outros dados e informações sobre o curso que resultaram num belo folder preto com letras na cor laranja, tendo ainda o mapa-múndi em relevo. É claro que no tocante ao design/tonalidades, pude contar com o talento da prata da casa, pois santo de casa também faz milagres. Procurei reunir ainda um bom conteúdo ilustrativo a ser inserido no sítio institucional. Por ora, era basicamente do que dispúnhamos em termos de material publicitário, pois apesar da promessa anteriormente aludida a divulgação na grande mídia resumia-se a anúncios esporádicos postados no fim de semana nos jornais Folha e Estadão, cujo anúncio relacionava todos os cursos da IES, finalizando com o de RI. Não que eu pretendesse jogar RI em primeiro plano, mas também não precisava ser o último (é uma questão de saber organizar...) sob o risco de não ser lido por quem se interessasse por RI. E anúncio exclusivo para RI nem pensar, mesmo sendo um curso novo, visto ser a política institucional no sentido de ou se divulga todos ou não se divulga ninguém isoladamente.
Ancorado pelo folder citado e pelo sítio institucional, além dos esporádicos anúncios em jornais, iniciamos o processo seletivo dos candidatos, os quais passei a entrevistar pessoalmente na IES após realizarem uma prova que continha redação, questões objetivas, interpretação de um texto em inglês (escolha minha; também elaborava as questões), além de um questionário sócio-econômico institucional no qual RI (e demais cursos) inseriam algumas questões acerca da área, denominada prova específica. Com o decorrer do tempo, percebi que perdíamos alguns candidatos pelo escasso ou ausente conhecimento da língua inglesa. Após essa constatação, passei a considerar o inglês como prova classificatória e não eliminatória, admitindo no curso também candidatos com inglês básico, desde que apresentasse uma boa redação.
A partir de abril de 2002, passei a representar a IES, ao proferir palestras sobre RI em várias escolas de ensino médio, atuar no plantão de dúvidas, enfim, participar ativamente das chamadas feiras de profissões, a fim de vender o nosso peixe.
Na divulgação do processo seletivo/vestibular inserida no sítio institucional, também todos os cursos eram listados, RI por último; o fato é que, finalizada a seleção, julho de 2002, RI contava com apenas 12 alunos matriculados. O pró-reitor acadêmico, à época, decidiu que ou iniciávamos mesmo assim ou não iniciaríamos nunca mais; ele estava com a razão, pois daqueles 12 “apóstolos” matriculados (havia até um traidor entre eles, o qual já mostrou suas garras logo no 3º semestre, assistido por outros traidores de última hora que quase acabaram com o curso; tive de engolir alguns sapos para salvar a lagoa...), somente 9 iniciaram o curso. Ganhamos aqui um grande aliado: a propaganda boca-a-boca que a partir de então só fez aumentar e gradativamente atrair mais alunos ao curso, tanto que a segunda turma já atraiu um público maior: 44 ingressantes matriculados, mesmo porque é relativamente mais fácil captar alunos para o primeiro semestre (2003).
Essa divulgação boca-a-boca devia-se à boa aceitação do Curso pelos alunos atuais e ingressantes, os quais muito elogiavam sua matriz curricular e seu quadro docente. Percebi então a necessidade de fornecer mais combustível para a tal publicidade, procurando atender ao interesse desse alunado.
Nesse sentido, organizei a I Semana Diplomática, em outubro de 2002, a fim de discutir a segurança internacional, convidando para tanto palestrantes ilustres como os pioneiros no estudo de RI no Brasil, como o Prof. Dr. Fernando Mourão (USP) e o Prof. Dr. Oliveiros Ferreira (USP e PUC), além do Prof. Dr. Henrique Altemani (USP e PUC), dentre outros. Do corpo diplomático compareceram o cônsul-geral de Israel, em São Paulo, e um embaixador do Itamaraty que não me recordo o nome (atualmente in memorian). Para a abertura do evento, convidei e fui atendido pelo Coral Belas Artes com 30 componentes, o qual fez uma belíssima apresentação em 5 canções e dentre elas, Rosa de Hiroshima (esta, a pedido meu). Aqui uma curiosidade: como só dispúnhamos de 9 alunos e 6 docentes, convidei alunos do curso de Administração da Belas Artes, além dos demais coordenadores de curso, a fim de preencher ao menos parte dos 148 lugares do auditório Raphael Dazzanne; pedi ainda a colaboração do maestro no sentido de que, após a apresentação, os integrantes do coral permanecessem na platéia, ampliando-a. A curiosidade está na fita VHS sobre o evento: quem a assistir perceberá cada um dos cantores sussurrar no ouvido do colega: “vamos sair de um em um para não dar na vista”, cumprindo o prometido; e não se deve culpá-los por isso, afinal o tema em debate fugia aos interesses dos mesmos. Vale sublinhar que a IES ofereceu um coquetel para recepcionar os convidados do quadro diplomático.
O quórum da platéia para a II Semana Diplomática, segundo semestre de 2003, já não era mais problema, embora não lotasse ainda o auditório; na edição do segundo semestre de 2004, atribuí a organização do evento à diretoria do nosso primeiro Centro Acadêmico de Relações Internacionais [C.A.R.I.] que, com o apoio logístico e moral tanto institucional quanto da coordenação, cumpriu muito bem o seu papel; e por me encontrar enfermo, à época, o prof. Sidney Leite me substituiu, contando ainda com o apoio dos demais membros-colegiados. Extinta a diretoria do CA, da quarta edição da Semana Diplomática em diante, a organização do evento fora por mim atribuída à Febaspjr-RI [a Empresa Júnior, hoje denominada Acesso Consultoria Internacional], que também deu conta do recado, adquirindo experiência nessa seara, pois era esse o meu objetivo com tal atribuição. Para já falar do outro evento permanente do curso, reuni as diretorias da Empresa Júnior (EJ), a então recém-eleita (2007) e a que se despedia, a fim de realizar um balanço das atividades, também presente o prof. Glauco Santos, coordenador da EJ. Minha intenção era dar uma sacudidela nos empresários juniores e dinamizar a EJ; e, em meio a críticas e sugestões, sugeri que organizassem um modelo de simulação da ONU: surgia assim o I BAMUN, organizado pela diretoria da EJ com grande competência e sucesso, superando minhas expectativas.
Outro desafio gratificante foi a criação da revista Data Venia. A intenção era que fosse impressa, mas face à alegação institucional de elevar os custos, além de sugerir a busca de um patrocinador, resolvi lançá-la on line mesmo. Após seu lançamento, ouvi críticas dando conta de que eu intentava me promover, quando de fato almejava promover o curso e, por conseguinte, a própria IES que o acolhera, até porque constituía espaço para publicação destinado à comunidade febaspiana. Data Venia sofreu uma censura institucional na edição número 11, cujo conteúdo parece ter desagradado aos mantenedores do curso. Desde a primeira edição e logo na primeira página, constava que seu conteúdo não necessariamente coincidiria com o pensamento dos mantenedores. Fomos “convidados” a alterar para: “seu conteúdo é de inteira responsabilidade dos autores que subscreverão suas respectivas matérias”.
Mais um desafio recaiu sobre a implantação do CEMPPRI. Somente na terceira tentativa encaminhada, em que, desta feita, propomos que seu encarregado realizaria de início um trabalho voluntário e ainda seria auxiliado por monitores também em caráter voluntarioso, é que logramos aprovação institucional.
Procuramos com elevada freqüência realizar eventos no início de cada semestre letivo, a fim de recepcionar calouros e veteranos. Um obstáculo que sempre se apresentava era nas visitas de palestrantes muito ilustres, e em particular do corpo diplomático, pois não conseguíamos contar com a presença da reitoria ou seu representante para prestigiar o convidado (não remunerado, é preciso dizer), ao compor a mesa, lá no auditório. Na época das pró-reitorias, o pró-reitor acadêmico geralmente comparecia, nem que fosse para cumprimentar o convidado e permanecer por alguns instantes; na visita do cônsul-geral do México em São Paulo, por exemplo, tive de ficar justificando sua ausência. No último evento dessa natureza, a professora Luisa Moura, coordenadora do CEMPPRI, conseguiu trazer o ilustre ex-ministro, Francisco Rezek; quase morri de vergonha, pois além de não contar com a presença da reitoria ou representante legal, o encarregado do Laboratório da Imagem e do Som (LIS) ainda esqueceu de enviar o responsável pelas filmagens; com certo esforço, conseguimos ao menos que o evento fosse registrado em fotos.
Creio já ter me alongado muito e finalizo a questão ratificando que o respaldo do sítio institucional, do quadro docente, da biblioteca, dos empreendimentos supramencionados e, sobretudo, da propaganda boca-a-boca do nosso alunado, além do apoio institucional via infra-estrutura e respectivos quadros técnico e administrativo cuja escassez profissional em dados momentos era de certo modo compensada pelo esforço, dedicação e uma pitada de boa vontade, tudo isso contribuiu para a consolidação deste que é, sem sobra de dúvidas, um dos melhores cursos de RI da capital paulista.
Em entrevista concedida por e-mail, o ex-coordenador do curso de Relações Internacionais da Belas Artes, Raimundo Ferreira de Vasconcelos e Vasconcelos, esclareceu alguns pontos obscuros de sua saída da Belas Artes.
O Diplomático preza pela transparência e nos parece justo abrir este espaço para que o principal responsável pelo nascimento e consolidação do nosso curso expresse o seu lado da história, que foi vergonhosamente abafado na ocasião.
Nesta primeira edição, o professor Raimundo, pernambucano de 49 anos, economista e educador com doutorado em sociologia (USP) e economia política (PUC-SP) e docente de MBA no Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), nos conta a sua atual dedicação à pesquisa para recuperar o tempo em que esteve dedicado quase integralmente ao nosso curso e revela também os desafios que enfrentou para que hoje nós possamos nos orgulhar de estudar em “um dos melhores cursos de RI da capital paulista”, nas palavras do próprio.
Na segunda parte da entrevista, que faremos suspense e deixaremos para a segunda edição, a ser publicada em janeiro de 2009, traremos a versão de Raimundo acerca de sua demissão e o que ele espera para o futuro dos estudantes de RI frente a mudanças como a crise financeira global e a eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA.
Como além de diplomáticos somos também democráticos, solicitamos por e-mail um esclarecimento sobre o ocorrido junto à Supervisão Acadêmica. A resposta, nada amistosa, não serve para elucidar o que aconteceu, mas revela a postura prepotente de quem se considera acima do bem e do mal. O que nos respondeu o supervisor acadêmico, que disse desconhecer a eleição da atual gestão do CA, também será mostrado com exclusividade na próxima edição.
***
O Diplomático – O que o senhor tem feito desde que deixou a Belas Artes?
Raimundo – Para minha grata satisfação, tenho lido bastante e pesquisado acerca da Economia Política Internacional, a fim de recuperar o “atraso” temporal, visto se tratar de atividades quase inconciliáveis com a coordenação de um curso, ainda mais com dedicação integral e exclusiva, embora com remuneração monetária parcial.
Tenho também me dedicado à elaboração de textos, proferido palestras sobre a crise global, realizado algumas consultorias acadêmicas e ministrado alguns módulos em cursos MBA.
O Diplomático – Conte-nos, por favor, os desafios enfrentados para abrir e consolidar o curso de RI na instituição em que estudamos.
Raimundo – Então senta que lá vem história...!
O primeiro desafio foi reverter a reprovação do MEC, pois o curso fora inicialmente montado por uma consultoria educacional, a qual o havia focado em Teoria da Administração e Gestão de Comércio Exterior, obtendo assim conceito D da equipe de avaliadores da Sesu/MEC.
A segunda visita dos examinadores do MEC (finais de 1999) durou dois dias e, desta feita, a implantação do curso já estava sob minha coordenação (free lancer). Tive, portanto, menos de 24h para modificar sua estrutura curricular em tempo hábil de ainda submetê-la ao crivo dos referidos examinadores, focando-a, desta feita, na Geopolítica com ênfase em três grandes áreas: Política Externa e Internacional, Integração Regional, e Direito Internacional (Público, Privado, Ambiental, Humanitário, além dos Tratados e Convenções Internacionais).
Perante essa nova proposta curricular, o então presidente da Comissão do MEC exclamou: “agora está com cara de RI... não fosse essa alteração, o curso seria reprovado pela segunda vez e em definitivo”. E, por conta do novo resultado apresentado, concederam-nos mais três meses de prazo, a fim de se fazer os demais ajustes no projeto pedagógico.
Era tudo o que eu precisava: mais prazo; iniciei então a formatar o novo projeto pedagógico, pautando-me pelos padrões de qualidade exigidos pelo MEC quanto à oferta de cursos. Eram 16 ou 17 itens ao todo só na esfera pedagógica; e, após examinados pelo MEC, foram considerados satisfatórios (no projeto anterior, elaborado pela consultoria, constavam como ora inexistente, ora insatisfatório cada um deles; parece que o maior acerto (único?) deles recaiu sobre a escolha do coordenador do curso, com o perdão da imodéstia.
É preciso sublinhar que a IES [Instituição de Ensino Superior] me disponibilizou, à época, toda sua infra-estrutura e staff, prometendo apoio pata tudo o que eu viesse a solicitar, concedendo-me inclusive liberdade para selecionar e contratar a equipe docente, a qual posso afirmar ter escolhido a dedo, apresentando ao MEC uma equipe docente para os dois primeiros semestres. Lembro-me aqui de mais uma exclamação do Prof. Dr. Henrique Altemani, o então presidente da Comissão do MEC: “o Raimundo está provando ser possível, em São Paulo, reunir uma boa equipe para lecionar Relações Internacionais”. Diga-se de passagem, a equipe docente obtivera conceito A já nessa fase de implantação do curso.
De um modo geral, a IES já possuía uma boa infra-estrutura; obtive então todo o apoio institucional para equipar a biblioteca de RI: foram adquiridos os livros-texto dos dois primeiros semestres; assinados os principais periódicos da área; adquiridos alguns vídeos em VHS. Também solicitei a cada docente contratado a entrega de um exemplar de sua dissertação e/ou tese, reforçando assim o acervo. Para resumir, o curso obteve aprovação do MEC com conceito A nessa fase de implantação (início de 1999; todavia, sua liberação pelo MEC só saiu em novembro de 2001, não havendo tempo hábil para divulgar e nem mesmo constar do edital do vestibular; daí ter iniciado somente no segundo semestre de 2002).
Ultrapassado o obstáculo da implantação, iniciava-se o da divulgação. E, nessa seara, a tradição se impunha. Como atrair a atenção para um curso novo, numa área até incipiente no Brasil – a exceção da UnB (1974), Universidade Estácio de Sá/RJ (nos anos 1980) e PUC-SP (que o iniciara em 1995) – e recém-acolhido por uma IES octogenária e de longa tradição acumulada no campo das artes. Era a pergunta que eu mesmo me fazia, à época.
Após refletir bastante, ocorreu-me a idéia de criar um slogan e, assim, surgia a bandeira brasileira ladeada pela da ONU seguidas do mote: “dialogando com o mundo”. Essa singela criação se juntou a outros dados e informações sobre o curso que resultaram num belo folder preto com letras na cor laranja, tendo ainda o mapa-múndi em relevo. É claro que no tocante ao design/tonalidades, pude contar com o talento da prata da casa, pois santo de casa também faz milagres. Procurei reunir ainda um bom conteúdo ilustrativo a ser inserido no sítio institucional. Por ora, era basicamente do que dispúnhamos em termos de material publicitário, pois apesar da promessa anteriormente aludida a divulgação na grande mídia resumia-se a anúncios esporádicos postados no fim de semana nos jornais Folha e Estadão, cujo anúncio relacionava todos os cursos da IES, finalizando com o de RI. Não que eu pretendesse jogar RI em primeiro plano, mas também não precisava ser o último (é uma questão de saber organizar...) sob o risco de não ser lido por quem se interessasse por RI. E anúncio exclusivo para RI nem pensar, mesmo sendo um curso novo, visto ser a política institucional no sentido de ou se divulga todos ou não se divulga ninguém isoladamente.
Ancorado pelo folder citado e pelo sítio institucional, além dos esporádicos anúncios em jornais, iniciamos o processo seletivo dos candidatos, os quais passei a entrevistar pessoalmente na IES após realizarem uma prova que continha redação, questões objetivas, interpretação de um texto em inglês (escolha minha; também elaborava as questões), além de um questionário sócio-econômico institucional no qual RI (e demais cursos) inseriam algumas questões acerca da área, denominada prova específica. Com o decorrer do tempo, percebi que perdíamos alguns candidatos pelo escasso ou ausente conhecimento da língua inglesa. Após essa constatação, passei a considerar o inglês como prova classificatória e não eliminatória, admitindo no curso também candidatos com inglês básico, desde que apresentasse uma boa redação.
A partir de abril de 2002, passei a representar a IES, ao proferir palestras sobre RI em várias escolas de ensino médio, atuar no plantão de dúvidas, enfim, participar ativamente das chamadas feiras de profissões, a fim de vender o nosso peixe.
Na divulgação do processo seletivo/vestibular inserida no sítio institucional, também todos os cursos eram listados, RI por último; o fato é que, finalizada a seleção, julho de 2002, RI contava com apenas 12 alunos matriculados. O pró-reitor acadêmico, à época, decidiu que ou iniciávamos mesmo assim ou não iniciaríamos nunca mais; ele estava com a razão, pois daqueles 12 “apóstolos” matriculados (havia até um traidor entre eles, o qual já mostrou suas garras logo no 3º semestre, assistido por outros traidores de última hora que quase acabaram com o curso; tive de engolir alguns sapos para salvar a lagoa...), somente 9 iniciaram o curso. Ganhamos aqui um grande aliado: a propaganda boca-a-boca que a partir de então só fez aumentar e gradativamente atrair mais alunos ao curso, tanto que a segunda turma já atraiu um público maior: 44 ingressantes matriculados, mesmo porque é relativamente mais fácil captar alunos para o primeiro semestre (2003).
Essa divulgação boca-a-boca devia-se à boa aceitação do Curso pelos alunos atuais e ingressantes, os quais muito elogiavam sua matriz curricular e seu quadro docente. Percebi então a necessidade de fornecer mais combustível para a tal publicidade, procurando atender ao interesse desse alunado.
Nesse sentido, organizei a I Semana Diplomática, em outubro de 2002, a fim de discutir a segurança internacional, convidando para tanto palestrantes ilustres como os pioneiros no estudo de RI no Brasil, como o Prof. Dr. Fernando Mourão (USP) e o Prof. Dr. Oliveiros Ferreira (USP e PUC), além do Prof. Dr. Henrique Altemani (USP e PUC), dentre outros. Do corpo diplomático compareceram o cônsul-geral de Israel, em São Paulo, e um embaixador do Itamaraty que não me recordo o nome (atualmente in memorian). Para a abertura do evento, convidei e fui atendido pelo Coral Belas Artes com 30 componentes, o qual fez uma belíssima apresentação em 5 canções e dentre elas, Rosa de Hiroshima (esta, a pedido meu). Aqui uma curiosidade: como só dispúnhamos de 9 alunos e 6 docentes, convidei alunos do curso de Administração da Belas Artes, além dos demais coordenadores de curso, a fim de preencher ao menos parte dos 148 lugares do auditório Raphael Dazzanne; pedi ainda a colaboração do maestro no sentido de que, após a apresentação, os integrantes do coral permanecessem na platéia, ampliando-a. A curiosidade está na fita VHS sobre o evento: quem a assistir perceberá cada um dos cantores sussurrar no ouvido do colega: “vamos sair de um em um para não dar na vista”, cumprindo o prometido; e não se deve culpá-los por isso, afinal o tema em debate fugia aos interesses dos mesmos. Vale sublinhar que a IES ofereceu um coquetel para recepcionar os convidados do quadro diplomático.
O quórum da platéia para a II Semana Diplomática, segundo semestre de 2003, já não era mais problema, embora não lotasse ainda o auditório; na edição do segundo semestre de 2004, atribuí a organização do evento à diretoria do nosso primeiro Centro Acadêmico de Relações Internacionais [C.A.R.I.] que, com o apoio logístico e moral tanto institucional quanto da coordenação, cumpriu muito bem o seu papel; e por me encontrar enfermo, à época, o prof. Sidney Leite me substituiu, contando ainda com o apoio dos demais membros-colegiados. Extinta a diretoria do CA, da quarta edição da Semana Diplomática em diante, a organização do evento fora por mim atribuída à Febaspjr-RI [a Empresa Júnior, hoje denominada Acesso Consultoria Internacional], que também deu conta do recado, adquirindo experiência nessa seara, pois era esse o meu objetivo com tal atribuição. Para já falar do outro evento permanente do curso, reuni as diretorias da Empresa Júnior (EJ), a então recém-eleita (2007) e a que se despedia, a fim de realizar um balanço das atividades, também presente o prof. Glauco Santos, coordenador da EJ. Minha intenção era dar uma sacudidela nos empresários juniores e dinamizar a EJ; e, em meio a críticas e sugestões, sugeri que organizassem um modelo de simulação da ONU: surgia assim o I BAMUN, organizado pela diretoria da EJ com grande competência e sucesso, superando minhas expectativas.
Outro desafio gratificante foi a criação da revista Data Venia. A intenção era que fosse impressa, mas face à alegação institucional de elevar os custos, além de sugerir a busca de um patrocinador, resolvi lançá-la on line mesmo. Após seu lançamento, ouvi críticas dando conta de que eu intentava me promover, quando de fato almejava promover o curso e, por conseguinte, a própria IES que o acolhera, até porque constituía espaço para publicação destinado à comunidade febaspiana. Data Venia sofreu uma censura institucional na edição número 11, cujo conteúdo parece ter desagradado aos mantenedores do curso. Desde a primeira edição e logo na primeira página, constava que seu conteúdo não necessariamente coincidiria com o pensamento dos mantenedores. Fomos “convidados” a alterar para: “seu conteúdo é de inteira responsabilidade dos autores que subscreverão suas respectivas matérias”.
Mais um desafio recaiu sobre a implantação do CEMPPRI. Somente na terceira tentativa encaminhada, em que, desta feita, propomos que seu encarregado realizaria de início um trabalho voluntário e ainda seria auxiliado por monitores também em caráter voluntarioso, é que logramos aprovação institucional.
Procuramos com elevada freqüência realizar eventos no início de cada semestre letivo, a fim de recepcionar calouros e veteranos. Um obstáculo que sempre se apresentava era nas visitas de palestrantes muito ilustres, e em particular do corpo diplomático, pois não conseguíamos contar com a presença da reitoria ou seu representante para prestigiar o convidado (não remunerado, é preciso dizer), ao compor a mesa, lá no auditório. Na época das pró-reitorias, o pró-reitor acadêmico geralmente comparecia, nem que fosse para cumprimentar o convidado e permanecer por alguns instantes; na visita do cônsul-geral do México em São Paulo, por exemplo, tive de ficar justificando sua ausência. No último evento dessa natureza, a professora Luisa Moura, coordenadora do CEMPPRI, conseguiu trazer o ilustre ex-ministro, Francisco Rezek; quase morri de vergonha, pois além de não contar com a presença da reitoria ou representante legal, o encarregado do Laboratório da Imagem e do Som (LIS) ainda esqueceu de enviar o responsável pelas filmagens; com certo esforço, conseguimos ao menos que o evento fosse registrado em fotos.
Creio já ter me alongado muito e finalizo a questão ratificando que o respaldo do sítio institucional, do quadro docente, da biblioteca, dos empreendimentos supramencionados e, sobretudo, da propaganda boca-a-boca do nosso alunado, além do apoio institucional via infra-estrutura e respectivos quadros técnico e administrativo cuja escassez profissional em dados momentos era de certo modo compensada pelo esforço, dedicação e uma pitada de boa vontade, tudo isso contribuiu para a consolidação deste que é, sem sobra de dúvidas, um dos melhores cursos de RI da capital paulista.
Agenda Diplomática
Este é o espaço dedicado às atividades do mês a que todos nós devemos estar atentos. Aproveitando o potencial de interação que um blog oferece, a Agenda Diplomática será um espaço sempre em construção, que cada um poderá completar por meio de comentários e/ou e-mails. Fiquem à vontade!
-> De 17 a 20 de janeiro, em Salvador (BA): 12º Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB) da União Nacional dos Estudantes (UNE)
A atividade reunirá delegados de Centros e Diretórios Acadêmicos de todo o Brasil para debater, principalmente, questões ligadas à educação e articulação e mobilização estudantil.
Durante os três dias de debates, plenárias e deliberações, os estudantes terão também a oportunidade de discutir ponto a ponto o Anteprojeto de Reforma Universitária da UNE e somar ao documento suas propostas.
Como representantes do nosso CA, teremos a presença de Mario Moraes como delegado e Max Gimenes como suplente. Quem tiver interesse de participar da viagem deve mandar um e-mail para novaordemacademica@gmail.com o mais rápido possível, colocando como assunto da mensagem a palavra “CONEB”. Após o encontro, provavelmente na edição de fevereiro, será publicado aqui um informe sobre o que foi discutido em Salvador.
Para saber mais, acesse: http://www.une.org.br.
-> De 27 de janeiro a 1º de fevereiro, em Belém (PA): Fórum Social Mundial 2009
O Fórum Social Mundial (FSM) é um espaço aberto de encontro – plural, diversificado, não-governamental e não-partidário – que estimula de forma descentralizada o debate, a reflexão, a formulação de propostas, a troca de experiências e a articulação entre organizações e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mais solidário, democrático e justo.
Muitos alunos irão e podem ajudar a conseguir ônibus para quem tem interesse de ir mas ainda não acertou nenhum meio de transporte. Se você quer ir e ainda não sabe como, escreva um e-mail para novaordemacademica@gmail.com, colocando como assunto da mensagem a palavra “FSM”. Quem ficar também ficará por dentro do que aconteceu. Sem dúvida, haverá informes daqueles que por lá passarem.
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Opinião Internacionalista
Para ver o seu artigo publicado nesta secção, escreva para nós (novaordemacademica@gmail.com). Como assunto da mensagem, coloque a palavra “Opinião”
A hora e a vez de Barack Obama*
Por Marcio Moraes do Nascimento
O simbolismo da vitória de um afro-americano em um país marcado pelo ódio racial, onde, há pouco, negros eram mortos se tivessem a “ousadia” de exercer o seu direito de voto, bem como do verdadeiro “movimento” que o apoiou, incluindo sobretudo setores excluídos da política de um modo geral como a juventude, os negros, os hispânicos, gera uma enorme expectativa nos setores progressistas da política internacional. Até que ponto Obama conseguirá superar os limites do sistema político estadunidense e habilitar uma agenda que contemple os setores que o apoiaram majoritariamente desde o inicio das primárias do Partido Democrata?
Obama enfrentará dificuldades para concretizar seu discurso de mudança e realizar o esperado desejo de superar a herança fundamentalista dos neoconservardores de George W. Bush. Obama desde sua vitoriosa campanha se equilibra muitas vezes em perigosas contradições tendo cada vez mais sendo obrigado a exercitar o seu talento para a conciliação.
Internamente caberá ao presidente eleito implantar políticas sociais visando remediar o legado de Bush, promovendo redistribuição de renda e um novo sistema de cobertura médica, que inclua milhões de pessoas excluídas do sistema de atendimento médico. Decerto a crise econômica dificultará o cumprimento das promessas e resultará em grandes desafios para a área social e econômica do governo Obama.
No plano internacional, Obama deve buscar novas alternativas, visando melhorar a imagem do país no exterior, algo que sua própria eleição, dado o seu caráter inovador, já propiciou de certa maneira. Basicamente deverá promover novo enfoque para áreas sensíveis da agenda internacional atual, como a questão ambiental e a dos direitos humanos. Neste ponto é fundamental o fechamento da prisão de Guantánamo; a equipe e o próprio Obama sinalizam para o fechamento desse símbolo ao desrespeito dos direitos humanos em dois anos, o que é um recuo, já que em campanha o candidato chegou a defender o imediato fechamento da prisão.
Em relação a “Guerra ao Terror”, Obama apresenta um discurso mais beligerante em relação ao Afeganistão, afirmando ser este o principal foco de combate ao terrorismo internacional da Al Qaeda, opinião esta que recebeu destaque por parte da mídia internacional e aprovação de diversos analistas internacionais. Quanto ao Iraque, a atitude de Obama foi mudando de uma posição de frontal desacordo com a ocupação e de clamor por uma retirada imediata das tropas da aliança anglo-americana do território iraquiano para uma posição mais conservadora e hoje é corrente entre seus auxiliares que uma saída do país do Oriente Médio só seria viável daqui a dois anos; a manutenção de Robert Gates no Pentágono e a nomeação de Hillary Clinton como chefe da diplomacia dos EUA notadamente devem corroborar com esse posicionamento mais conservador.
Na América Latina, é guardada com grande expectativa que tipo de comportamento o presidente eleito terá em relação a Cuba. Em campanha, Obama chegou a comentar que se reuniria com o presidente cubano Raúl Castro, resta saber se a posição do começo da campanha, que rendeu severas criticas por parte dos republicanos, o fez recuar ou se a expressiva votação recebida por parte dos hispânicos na Flórida o convenceu de que é plenamente viável acabar com o embargo à ilha de Fidel. Os governantes da América Latina, esperançosos em uma nova atitude do novo governo, desde já cobram essa postura do novo governo, assim como uma postura de diálogo positivo com lideranças do subcontinente, o que sinalizaria um novo termo nas relações entre os EUA e a América Latina, superando desconfianças históricas, agravadas pelos oito anos da gestão de George W. Bush.
A expectativa é imensa, porém as dificuldades serão diretamente proporcionais. Até que ponto o novo presidente e sua equipe estarão munidos de capacidade para superar questões delicadíssimas e conduzir propostas de políticas públicas assertivas que possibilitem ao novo governo não cair na armadilha de ser um mero gestor das crises internas e externas? Resumindo, é preciso estar preparado para se decepcionar com Obama.
* Na próxima edição, teremos um artigo sobre a posse de Barack Obama escrito diretamente dos EUA pelo nosso enviado especial, Paulo Meirelles. Brincadeiras à parte, o Paulo realmente está lá e assegura que fará uma cobertura completa do evento que promete atrair para si os holofotes da mídia de todo o mundo.
O simbolismo da vitória de um afro-americano em um país marcado pelo ódio racial, onde, há pouco, negros eram mortos se tivessem a “ousadia” de exercer o seu direito de voto, bem como do verdadeiro “movimento” que o apoiou, incluindo sobretudo setores excluídos da política de um modo geral como a juventude, os negros, os hispânicos, gera uma enorme expectativa nos setores progressistas da política internacional. Até que ponto Obama conseguirá superar os limites do sistema político estadunidense e habilitar uma agenda que contemple os setores que o apoiaram majoritariamente desde o inicio das primárias do Partido Democrata?
Obama enfrentará dificuldades para concretizar seu discurso de mudança e realizar o esperado desejo de superar a herança fundamentalista dos neoconservardores de George W. Bush. Obama desde sua vitoriosa campanha se equilibra muitas vezes em perigosas contradições tendo cada vez mais sendo obrigado a exercitar o seu talento para a conciliação.
Internamente caberá ao presidente eleito implantar políticas sociais visando remediar o legado de Bush, promovendo redistribuição de renda e um novo sistema de cobertura médica, que inclua milhões de pessoas excluídas do sistema de atendimento médico. Decerto a crise econômica dificultará o cumprimento das promessas e resultará em grandes desafios para a área social e econômica do governo Obama.
No plano internacional, Obama deve buscar novas alternativas, visando melhorar a imagem do país no exterior, algo que sua própria eleição, dado o seu caráter inovador, já propiciou de certa maneira. Basicamente deverá promover novo enfoque para áreas sensíveis da agenda internacional atual, como a questão ambiental e a dos direitos humanos. Neste ponto é fundamental o fechamento da prisão de Guantánamo; a equipe e o próprio Obama sinalizam para o fechamento desse símbolo ao desrespeito dos direitos humanos em dois anos, o que é um recuo, já que em campanha o candidato chegou a defender o imediato fechamento da prisão.
Em relação a “Guerra ao Terror”, Obama apresenta um discurso mais beligerante em relação ao Afeganistão, afirmando ser este o principal foco de combate ao terrorismo internacional da Al Qaeda, opinião esta que recebeu destaque por parte da mídia internacional e aprovação de diversos analistas internacionais. Quanto ao Iraque, a atitude de Obama foi mudando de uma posição de frontal desacordo com a ocupação e de clamor por uma retirada imediata das tropas da aliança anglo-americana do território iraquiano para uma posição mais conservadora e hoje é corrente entre seus auxiliares que uma saída do país do Oriente Médio só seria viável daqui a dois anos; a manutenção de Robert Gates no Pentágono e a nomeação de Hillary Clinton como chefe da diplomacia dos EUA notadamente devem corroborar com esse posicionamento mais conservador.
Na América Latina, é guardada com grande expectativa que tipo de comportamento o presidente eleito terá em relação a Cuba. Em campanha, Obama chegou a comentar que se reuniria com o presidente cubano Raúl Castro, resta saber se a posição do começo da campanha, que rendeu severas criticas por parte dos republicanos, o fez recuar ou se a expressiva votação recebida por parte dos hispânicos na Flórida o convenceu de que é plenamente viável acabar com o embargo à ilha de Fidel. Os governantes da América Latina, esperançosos em uma nova atitude do novo governo, desde já cobram essa postura do novo governo, assim como uma postura de diálogo positivo com lideranças do subcontinente, o que sinalizaria um novo termo nas relações entre os EUA e a América Latina, superando desconfianças históricas, agravadas pelos oito anos da gestão de George W. Bush.
A expectativa é imensa, porém as dificuldades serão diretamente proporcionais. Até que ponto o novo presidente e sua equipe estarão munidos de capacidade para superar questões delicadíssimas e conduzir propostas de políticas públicas assertivas que possibilitem ao novo governo não cair na armadilha de ser um mero gestor das crises internas e externas? Resumindo, é preciso estar preparado para se decepcionar com Obama.
* Na próxima edição, teremos um artigo sobre a posse de Barack Obama escrito diretamente dos EUA pelo nosso enviado especial, Paulo Meirelles. Brincadeiras à parte, o Paulo realmente está lá e assegura que fará uma cobertura completa do evento que promete atrair para si os holofotes da mídia de todo o mundo.
A barbárie neoliberal
Por Leonardo Delmondes
Durante o período do Império Romano, os povos tomados pela força eram integrados ao império, suas fortunas eram saqueadas e os homens tinham a opção “misericordiosa” de se tornarem escravos a serviço de um senhor que o comprava por um preço razoável. As fronteiras do império estavam em constante expansão e inevitavelmente isso levava também à expansão da cultura romana. Tudo o que estava dentro das fronteiras do império era considerado como “o mundo civilizado”; tudo o que estava dentro das fronteiras do império e, sendo assim, todos os que estavam além dessas fronteiras eram considerados bárbaros, agrupados em uma mesma massa povos com diferenças bastante gritantes entre si, como os Vândalos dos Celtas.
O império via esses povos do além-fronteira como verdadeiros párias que tinham culturas rústicas baseadas em sangue e sacrifício, coisas totalmente inaceitáveis aos olhos do mundo civilizado, não importavam quais fossem as suas justificativas. É fato que em muitos pontos os chamados bárbaros tinham sim sangue e violência impregnados em sua moral, mas será que jogar no Coliseu homens para se digladiarem até a morte para o deleite de uma multidão estava tão longe disso assim?
O fato é que o império não levava em consideração as bases dessas culturas, ele simplesmente as desprezava, pois a sua ideologia na época era a dominante. Transportando isso para os dias atuais, é bem fácil fazer um comparativo com o império e a ideologia que também são dominantes. Ao longo da década de 1990, depois da vitória dos EUA na Guerra Fria, a ideologia neoliberal passou a ser bastante dominante em todo o mundo; o fim do comunismo representaria uma nova era de paz e prosperidade baseada em um mercado que seria justo com todos e traria crescimento mundial. Daí em diante, junto à ideologia neoliberal, veio também o estranho conceito de que paz e prosperidade estavam intimamente ligadas ao consumo. Inicia-se então uma sociedade de consumo sob a bandeira estadunidense como exemplo.
Tudo o que estava além desse conceito, como o mundo Árabe, onde homens se martirizam para alcançar sua redenção, ou a América do Sul, que hoje grita para se fazer ouvir contra esse mesmo livre-mercado global que há séculos tem colocado suas economias em subserviência ao império em vez de efetivamente fazer parte dele, são vistos como párias, bárbaros que estão além das bordas da prosperidade neoliberal. E, sendo assim, precisam ser combatidos para que possam se integrar ao império, talvez não tão diretamente como quando os romanos dominavam. Mas colocando esses povos em uma situação de semi-escravidão, bastante evidente sob a máscara da promessa de que um dia poderão alcançar o mesmo patamar dos que hoje os exploram.
Será que esta ideologia é válida ao ponto de se impor sobre culturas milenares como aquelas que hoje estão no Oriente Médio só para fazer valer sua vontade de mercado? Será que esta “vontade universalista” do império é realmente válida, mesmo para aqueles que estão dentro de suas fronteiras culturais como o Brasil, quando nesse caso o nosso país é colocado em posição de explorado tão explicitamente? Será que não é hora de o império perceber que as vontades dos “bárbaros” podem se fazer valer tanto quanto sua suposta ideologia tão boa para todos?
No passado, foram os bárbaros que derrubaram o Império Romano. Hoje, a mostra mais clara da decadência do império norte-americano foi em 11 de setembro de 2001, quando os supostos “bárbaros árabes” derrubaram as torres gêmeas, marcando o início de uma nova era das relações internacionais, onde os outros povos começam a se perguntar se a ideologia do império é realmente de paz e prosperidade ou se tem a real intenção de prosperar enquanto joga as outras economias no Coliseu para se digladiarem por sua sobrevivência.
Durante o período do Império Romano, os povos tomados pela força eram integrados ao império, suas fortunas eram saqueadas e os homens tinham a opção “misericordiosa” de se tornarem escravos a serviço de um senhor que o comprava por um preço razoável. As fronteiras do império estavam em constante expansão e inevitavelmente isso levava também à expansão da cultura romana. Tudo o que estava dentro das fronteiras do império era considerado como “o mundo civilizado”; tudo o que estava dentro das fronteiras do império e, sendo assim, todos os que estavam além dessas fronteiras eram considerados bárbaros, agrupados em uma mesma massa povos com diferenças bastante gritantes entre si, como os Vândalos dos Celtas.
O império via esses povos do além-fronteira como verdadeiros párias que tinham culturas rústicas baseadas em sangue e sacrifício, coisas totalmente inaceitáveis aos olhos do mundo civilizado, não importavam quais fossem as suas justificativas. É fato que em muitos pontos os chamados bárbaros tinham sim sangue e violência impregnados em sua moral, mas será que jogar no Coliseu homens para se digladiarem até a morte para o deleite de uma multidão estava tão longe disso assim?
O fato é que o império não levava em consideração as bases dessas culturas, ele simplesmente as desprezava, pois a sua ideologia na época era a dominante. Transportando isso para os dias atuais, é bem fácil fazer um comparativo com o império e a ideologia que também são dominantes. Ao longo da década de 1990, depois da vitória dos EUA na Guerra Fria, a ideologia neoliberal passou a ser bastante dominante em todo o mundo; o fim do comunismo representaria uma nova era de paz e prosperidade baseada em um mercado que seria justo com todos e traria crescimento mundial. Daí em diante, junto à ideologia neoliberal, veio também o estranho conceito de que paz e prosperidade estavam intimamente ligadas ao consumo. Inicia-se então uma sociedade de consumo sob a bandeira estadunidense como exemplo.
Tudo o que estava além desse conceito, como o mundo Árabe, onde homens se martirizam para alcançar sua redenção, ou a América do Sul, que hoje grita para se fazer ouvir contra esse mesmo livre-mercado global que há séculos tem colocado suas economias em subserviência ao império em vez de efetivamente fazer parte dele, são vistos como párias, bárbaros que estão além das bordas da prosperidade neoliberal. E, sendo assim, precisam ser combatidos para que possam se integrar ao império, talvez não tão diretamente como quando os romanos dominavam. Mas colocando esses povos em uma situação de semi-escravidão, bastante evidente sob a máscara da promessa de que um dia poderão alcançar o mesmo patamar dos que hoje os exploram.
Será que esta ideologia é válida ao ponto de se impor sobre culturas milenares como aquelas que hoje estão no Oriente Médio só para fazer valer sua vontade de mercado? Será que esta “vontade universalista” do império é realmente válida, mesmo para aqueles que estão dentro de suas fronteiras culturais como o Brasil, quando nesse caso o nosso país é colocado em posição de explorado tão explicitamente? Será que não é hora de o império perceber que as vontades dos “bárbaros” podem se fazer valer tanto quanto sua suposta ideologia tão boa para todos?
No passado, foram os bárbaros que derrubaram o Império Romano. Hoje, a mostra mais clara da decadência do império norte-americano foi em 11 de setembro de 2001, quando os supostos “bárbaros árabes” derrubaram as torres gêmeas, marcando o início de uma nova era das relações internacionais, onde os outros povos começam a se perguntar se a ideologia do império é realmente de paz e prosperidade ou se tem a real intenção de prosperar enquanto joga as outras economias no Coliseu para se digladiarem por sua sobrevivência.
Charge do mês
A charge ao lado ilustrou a capa da revista The New Yorker e causou bastante polêmica. A publicação é progressista e pende para o lado democrata, e a intenção da brincadeira era justamente mostrar a absurda forma como os conservadores de plantão estavam pintando o então candidato à presidência dos EUA Barack Obama: muçulmano, esquerdista, não-patriota etc.
A ironia, espirituosa demais, não foi entendida por grande parte do público, que reagiu indignada, considerando-a uma brincadeira de mau gosto. O tiro saiu pela culatra e o efeito foi negativo.
Um pouco antes, a revista Vanity Fair havia trazido o casal McCain em sua capa, com uma charge semelhante porém bastante favorável ao então candidato republicano. Era óbvia e sem graça, e talvez por isso tenha sido compreendida sem maiores dificuldades.
Para as próximas edições, serão aceitas charges feitas ou encontradas por alunos neste vasto mundo que é a internet. Basta que enviem para novaordemacademica@gmail.com, colocando como assunto da mensagem a palavra “charge”.
sábado, 6 de dezembro de 2008
Agenda Diplomática
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