quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A hora e a vez de Barack Obama*

Por Marcio Moraes do Nascimento

O simbolismo da vitória de um afro-americano em um país marcado pelo ódio racial, onde, há pouco, negros eram mortos se tivessem a “ousadia” de exercer o seu direito de voto, bem como do verdadeiro “movimento” que o apoiou, incluindo sobretudo setores excluídos da política de um modo geral como a juventude, os negros, os hispânicos, gera uma enorme expectativa nos setores progressistas da política internacional. Até que ponto Obama conseguirá superar os limites do sistema político estadunidense e habilitar uma agenda que contemple os setores que o apoiaram majoritariamente desde o inicio das primárias do Partido Democrata?

Obama enfrentará dificuldades para concretizar seu discurso de mudança e realizar o esperado desejo de superar a herança fundamentalista dos neoconservardores de George W. Bush. Obama desde sua vitoriosa campanha se equilibra muitas vezes em perigosas contradições tendo cada vez mais sendo obrigado a exercitar o seu talento para a conciliação.

Internamente caberá ao presidente eleito implantar políticas sociais visando remediar o legado de Bush, promovendo redistribuição de renda e um novo sistema de cobertura médica, que inclua milhões de pessoas excluídas do sistema de atendimento médico. Decerto a crise econômica dificultará o cumprimento das promessas e resultará em grandes desafios para a área social e econômica do governo Obama.

No plano internacional, Obama deve buscar novas alternativas, visando melhorar a imagem do país no exterior, algo que sua própria eleição, dado o seu caráter inovador, já propiciou de certa maneira. Basicamente deverá promover novo enfoque para áreas sensíveis da agenda internacional atual, como a questão ambiental e a dos direitos humanos. Neste ponto é fundamental o fechamento da prisão de Guantánamo; a equipe e o próprio Obama sinalizam para o fechamento desse símbolo ao desrespeito dos direitos humanos em dois anos, o que é um recuo, já que em campanha o candidato chegou a defender o imediato fechamento da prisão.

Em relação a “Guerra ao Terror”, Obama apresenta um discurso mais beligerante em relação ao Afeganistão, afirmando ser este o principal foco de combate ao terrorismo internacional da Al Qaeda, opinião esta que recebeu destaque por parte da mídia internacional e aprovação de diversos analistas internacionais. Quanto ao Iraque, a atitude de Obama foi mudando de uma posição de frontal desacordo com a ocupação e de clamor por uma retirada imediata das tropas da aliança anglo-americana do território iraquiano para uma posição mais conservadora e hoje é corrente entre seus auxiliares que uma saída do país do Oriente Médio só seria viável daqui a dois anos; a manutenção de Robert Gates no Pentágono e a nomeação de Hillary Clinton como chefe da diplomacia dos EUA notadamente devem corroborar com esse posicionamento mais conservador.

Na América Latina, é guardada com grande expectativa que tipo de comportamento o presidente eleito terá em relação a Cuba. Em campanha, Obama chegou a comentar que se reuniria com o presidente cubano Raúl Castro, resta saber se a posição do começo da campanha, que rendeu severas criticas por parte dos republicanos, o fez recuar ou se a expressiva votação recebida por parte dos hispânicos na Flórida o convenceu de que é plenamente viável acabar com o embargo à ilha de Fidel. Os governantes da América Latina, esperançosos em uma nova atitude do novo governo, desde já cobram essa postura do novo governo, assim como uma postura de diálogo positivo com lideranças do subcontinente, o que sinalizaria um novo termo nas relações entre os EUA e a América Latina, superando desconfianças históricas, agravadas pelos oito anos da gestão de George W. Bush.

A expectativa é imensa, porém as dificuldades serão diretamente proporcionais. Até que ponto o novo presidente e sua equipe estarão munidos de capacidade para superar questões delicadíssimas e conduzir propostas de políticas públicas assertivas que possibilitem ao novo governo não cair na armadilha de ser um mero gestor das crises internas e externas? Resumindo, é preciso estar preparado para se decepcionar com Obama.

* Na próxima edição, teremos um artigo sobre a posse de Barack Obama escrito diretamente dos EUA pelo nosso enviado especial, Paulo Meirelles. Brincadeiras à parte, o Paulo realmente está lá e assegura que fará uma cobertura completa do evento que promete atrair para si os holofotes da mídia de todo o mundo.

4 comentários:

  1. Belo artigo. Você parece ter talento para coisa. Continue assim e quem sabe não iremos ve-lo num grande jornal nos próximos anos.

    Abraços,

    Diogo

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  2. Parece que as decepções já começaram, chama atenção a postura pífia adotada por Obama na questão da Palestina.


    Muito bom o blog

    Abraço

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  3. Se o Obama não tomar uma atitude diferente neste episódio, realmente será a primeira grande decepção.

    Parabéns pelo Blog, mesmo não sendo alundo de RI da Belas Artes, gostei muito.

    Abs.

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  4. É, o Marcio mandou bem.

    Já o Obama... definitivamente não. Mas, ok, estamos preparados para a decepção.

    Só torcemos, para evitar o custo de mais vidas inocentes, que ele tenha uma postuma minimamente coerente em relação ao Oriente Médio.

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