Por Leonardo Delmondes
Durante o período do Império Romano, os povos tomados pela força eram integrados ao império, suas fortunas eram saqueadas e os homens tinham a opção “misericordiosa” de se tornarem escravos a serviço de um senhor que o comprava por um preço razoável. As fronteiras do império estavam em constante expansão e inevitavelmente isso levava também à expansão da cultura romana. Tudo o que estava dentro das fronteiras do império era considerado como “o mundo civilizado”; tudo o que estava dentro das fronteiras do império e, sendo assim, todos os que estavam além dessas fronteiras eram considerados bárbaros, agrupados em uma mesma massa povos com diferenças bastante gritantes entre si, como os Vândalos dos Celtas.
O império via esses povos do além-fronteira como verdadeiros párias que tinham culturas rústicas baseadas em sangue e sacrifício, coisas totalmente inaceitáveis aos olhos do mundo civilizado, não importavam quais fossem as suas justificativas. É fato que em muitos pontos os chamados bárbaros tinham sim sangue e violência impregnados em sua moral, mas será que jogar no Coliseu homens para se digladiarem até a morte para o deleite de uma multidão estava tão longe disso assim?
O fato é que o império não levava em consideração as bases dessas culturas, ele simplesmente as desprezava, pois a sua ideologia na época era a dominante. Transportando isso para os dias atuais, é bem fácil fazer um comparativo com o império e a ideologia que também são dominantes. Ao longo da década de 1990, depois da vitória dos EUA na Guerra Fria, a ideologia neoliberal passou a ser bastante dominante em todo o mundo; o fim do comunismo representaria uma nova era de paz e prosperidade baseada em um mercado que seria justo com todos e traria crescimento mundial. Daí em diante, junto à ideologia neoliberal, veio também o estranho conceito de que paz e prosperidade estavam intimamente ligadas ao consumo. Inicia-se então uma sociedade de consumo sob a bandeira estadunidense como exemplo.
Tudo o que estava além desse conceito, como o mundo Árabe, onde homens se martirizam para alcançar sua redenção, ou a América do Sul, que hoje grita para se fazer ouvir contra esse mesmo livre-mercado global que há séculos tem colocado suas economias em subserviência ao império em vez de efetivamente fazer parte dele, são vistos como párias, bárbaros que estão além das bordas da prosperidade neoliberal. E, sendo assim, precisam ser combatidos para que possam se integrar ao império, talvez não tão diretamente como quando os romanos dominavam. Mas colocando esses povos em uma situação de semi-escravidão, bastante evidente sob a máscara da promessa de que um dia poderão alcançar o mesmo patamar dos que hoje os exploram.
Será que esta ideologia é válida ao ponto de se impor sobre culturas milenares como aquelas que hoje estão no Oriente Médio só para fazer valer sua vontade de mercado? Será que esta “vontade universalista” do império é realmente válida, mesmo para aqueles que estão dentro de suas fronteiras culturais como o Brasil, quando nesse caso o nosso país é colocado em posição de explorado tão explicitamente? Será que não é hora de o império perceber que as vontades dos “bárbaros” podem se fazer valer tanto quanto sua suposta ideologia tão boa para todos?
No passado, foram os bárbaros que derrubaram o Império Romano. Hoje, a mostra mais clara da decadência do império norte-americano foi em 11 de setembro de 2001, quando os supostos “bárbaros árabes” derrubaram as torres gêmeas, marcando o início de uma nova era das relações internacionais, onde os outros povos começam a se perguntar se a ideologia do império é realmente de paz e prosperidade ou se tem a real intenção de prosperar enquanto joga as outras economias no Coliseu para se digladiarem por sua sobrevivência.
Foi uma suspresa muito boa ler este texto do Léo, não conhecia sua postura crítica e contundente, embora a sua participação em sala de aula seja bastante positiva.
ResponderExcluirEnfim, o neoliberalismo, sob a tutela de Bush, demonstrou que não é realmente de paz e não receia em jogar economias no Coliseu para se digladiarem por sua sobrevivência.
Léo, parabéns!