segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Artigo - Conune


Sobre o Congresso da UNE e a hipocrisia da mídia

Por Márcio Moraes*

Entre os dias 15 e 19 de julho foi realizado o 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes ao todo mais de 3.000 delegados (4 destes, eram da Belas Artes) de todos os cantos do país se credenciaram e tiveram direito a voz e voto neste Congresso. Como na maioria dos fóruns do movimento estudantil a organização não foi o forte o que prejudicou a participação dos estudantes nos 25 grupos de discussão. Além dos temas tradicionais do movimento de educação e estudantil (Reforma Universitária, regulamentação do ensino privado, universalização do ensino superior público de qualidade, cotas, ENADE) muitos debates das mesas de discussão versavam sobre temas candentes das relações internacionais como a crise econômica, financeira e ambiental, o golpe de estado em Honduras, integração latino americana, reintegração de Cuba a OEA e o fim do embargo a ilha caribenha.

Entretanto o grande destaque do Congresso girou em torno da campanha “O Pré Sal é nosso!” (que preconiza um novo marco regulatório para o setor, sobre controle estatal e defendendo que parte dos recursos advindos da exploração das novas reservas, sejam aplicados diretamente na educação) e a polêmica em torno do Patrocínio de R$ 100 mil da PETROBRÁS ao evento, os grandes meios de comunicação se apressaram em denunciar a capitulação da UNE frente ao governo federal -, observando que está é “chapa branca” ou governista como preferem as organizações mais á esquerda que são opositoras da direção majoritária da entidade – já que esse patrocínio expressaria a falta de independência da UNE. Nada mais hipócrita do que esse estardalhaço da grande mídia corporativa, é notório que todo ano essas empresas recebem milhões de reais dos Governo Federal, Estaduais e Municipais com a venda de espaços publicitários em suas TVs, rádios e revistas, em nenhum momento esses mesmos órgãos questionam, se as polpudas verbas publicitárias recebidas dos entes governamentais estariam por lhe tirar a famosa “independência” editorial em relação ao poder estatal, fica a impressão que até mesmo de forma messiânica o jornalismo brasileiro se auto-denomina à prova de influencias externas, seja de governos ou de lobbies empresariais, contudo esse discurso da independência como já foi dito nesse espaço de informação serve a certos interesses e construções ideológicas.

Não contente, a mídia, em diversas matérias, alerta para a mudança de postura da UNE, pois a entidade teria deixado de ser combativa, para ter uma abordagem passiva. Não é preciso ter muita memória para apontar a esquizofrenia do discurso das oligarquias que controlam os meios de comunicação do Brasil.

Aponta o passado combativo da UNE como exemplo, porém, esse padrão de comportamento nunca foi apoiado pelos grandes oligopólios da comunicação brasileira, pelo contrario estes dois entes da sociedade civil brasileira sempre estiveram em lados opostos. Lembrando um passado recente posso dizer que a mídia apoiou a “ditaduríssima” brasileira (não é, Folha de São Paulo?), a UNE combateu; a mídia escondeu a campanha das “Diretas Já”, a UNE foi pra rua pedir eleições democráticas para presidente do país; a mídia elegeu Fernando Collor, os estudantes pediram seu impeachment.

A UNE tem defeitos e eles são diversos, mas coadunar com o discurso hipócrita da mídia é servir aos interesses de quem sempre esteve contra o projeto de democratização do país. Recentemente a UNE se posicionou contra a medida do governo federal que prevê financiamento por parte do BNDES a instituições de ensino superior em dificuldades financeiras, curiosamente os meios de comunicação não ecoaram a posição de desacordo da UNE, por que será?



* Graduando do 8º semestre do Curso de Relações Internacionais Belas Artes

Um comentário:

  1. Assim como o Marcio e os outros três delegados da Belas Artes, também estive nesse último Congresso da UNE (CONUNE). Mas como delegado da USP.

    Concordo em parte com o texto do Marcio, porém me reservo o direito de pontuar algumas coisas. São críticas à esquerda, portanto não têm nada a ver com as críticas da mídia conservadora, que são de direita, apesar de travestidas de defesa do interesse coletivo.

    Na minha opinião, a atual gestão majoritária da UNE (bem como a que a antecedeu) está atrelada ao governo federal. O que eu consideraria ruim mesmo que concordasse com o governo Lula, uma vez que penso o movimento estudantil como algo autônomo em relação a partidos e governos.

    Acontece que a UNE, que tantas vezes foi para a rua defender suas posições, hoje não mobiliza os estudantes para repetir a dose. Faz atos esvaziados e geralmente com viés abertamente pró-Lula, em vez de politizar o debate e de combater todo e qualquer tipo de personalismo. (Afinal, por que será que Lula quer o BNDES salvando os empresários do ensino superior privado? Quanto estudantes foram para a rua protestar contra isso? Basta apenas dizer que é contra? São perguntas sobre as quais vale a pena refletir...)

    Pois bem, a chamada grande mídia brasileira defende os interesses do setor ao qual pertence, a elite econômica do país. E portanto defende também os privilégios historicamente a ela reservados. Para ela, é inadmissível ver um ex-metalúrgico chegar ao poder. Ainda que ele esteja disposto a fazer tantas concessões quanto necessário à classe dominante para atenuar superficialmente a miséria. No meu ver, sem nenhum projeto de transformações estruturais que possibilitem o desabrochar de uma outra sociedade, mais justa e fraterna. Sem esse projeto, medidas paliativas servem apenas para empurrar o problema com a barriga.

    Por fim, respondendo à pergunta do Marcio, digo que a mídia não aponta as divergências entre a UNE e o governo Lula pelo fato de elas serem poucas (e geralmente restritas a palavras de desaprovação) e pelo fato de isso atrapalhar a intenção dela de combater o governo petista e todos os braços que ajudam a sustentá-lo, o são a UNE e a CUT.

    A grande mídia nativa é hipócrita e não se incomoda em distorcer os fatos. Fazem isso para atender os seus interesses. Quem quiser combatê-la não pode, no entanto, defender os próprios interesses utilizando o mesmo método. A UNE atualmente tem problemas, e o ato de reconhecê-los é o primeiro passo para colocá-la novamente à frente da luta por um mundo melhor. Encampando projetos, sim, mas não governos ou partidos. É preciso desenvolver uma postura crítica.

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