segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Artigo - O dólar


O papel do dólar como moeda de reserva internacional

Por Mariana Moura*

A crise é a mãe das possibilidades

A uma semana do encontro dos 20 países mais ricos do mundo – o chamado G-20 - o presidente do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, defendeu a reforma do sistema monetário internacional e propôs a substituição da moeda utilizada atualmente nas operações financeiras internacionais por uma que esteja “desconectada de interesses de um único país”.

A principal moeda utilizada em tais operações hoje é o dólar, moeda corrente dos Estados Unidos da América, e sua substituição é defendida também pelo Brasil, Índia e Rússia. Os Bric (termo cunhado pelo economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, em 2001 e que se refere aos quatro países que estão sustentando o mundo durante a crise), possuem reservas internacionais no valor de US$ 2,8 trilhões, segundo dados da Bloomberg.

Só a China tem US$ 1,97 trilhão em reservas, uma boa parte em títulos dos EUA. Em setembro do ano passado, a nação superou o Japão como o maior credor dos Estados Unidos, e em dezembro detinha US$ 727,4 bilhões em bônus do Tesouro – em dólar. Mas, a moeda dos Estados Unidos só tem perdido valor em relação às moedas dos países que detêm as reservas. Em um mês, o de abril, o real se valorizou 11,2%, o rublo, 6,9%, e a rúpia, 6,4%, em relação ao dólar.

E, ainda, não só o uso prioritário do dólar como moeda de reserva está dando prejuízo para estes países, como sustenta uma relação de dominação que já não é mais tão aceita.

“O privilégio de fornecer a divisa de reserva do mundo, o dinheiro que os países utilizam para efetuar negócios para além das suas fronteiras, é uma fonte de poder para o país que a controla mais valiosa do que a mais poderosa força militar. Uma vez que virtualmente todo dinheiro é criado ‘a partir do ar’ por meio de entradas em contabilidades bancárias, o país que fornece a divisa de reserva do mundo tem o poder de criar dinheiro suficiente para comprar o mundo”, afirmou o historiador Steven Lesh, em recente artigo (O 'soft power' dos EUA e os bancos).

A alternativa apresentada pela china é ampliar o uso dos Direitos Especiais de Saque (DES) emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Criados em 1969 por proposta do presidente francês Charles De Gaulle, os DES são aceitos hoje apenas para pagamentos entre governos e instituições internacionais. A proposta é que sejam usados também em operações de comércio e financeiras, como a precificação de produtos comercializados internacionalmente (commodities), investimentos e balanços contábeis.

O problema é que o valor dos DES é controlado pelos poucos países que mandavam no Fundo. Seu preço é definido pelo euro, o yen, a libra esterlina e (novamente e fundamentalmente) pelo dólar. Mantém a dependência.

O presidente do Banco Central chinês afirma, com propriedade, que, “teoricamente, uma moeda de reserva internacional deveria ser desconectada das condições econômicas e de interesses soberanos de um único país”. De um único país não pode, mas de apenas quatro sim?

* Graduanda do 6º semestre do Curso de Relações Internacionais Belas Artes

2 comentários:

  1. Substituir o Dólar como moeda de reserva internacional é fundamental para se libertar do imperialismo e promover a verdadeira independência do Brasil. Hoje todos os países são reféns da moeda estadunidense, que não tem lastro em nada e que tem sido usada principalmente desde a ruptura com a paridade e a livre-conversibilidade com ouro para endividar países menos desenvolvidos e, desse modo, torná-los dependentes econômica e politicamente.

    Mas, como bem disse a Mari, não basta substituir a dependência de uma moeda pela dependência de outras quatro. A arquitetura do sistema monetário internacional deve se dar em outros marcos, que visem a integração entre povos, combatendo as desigualdades hoje existentes entre nações. Tendo sempre em vista que o funcionamento de qualquer arranjo supra-estatal hoje está sujeito à soberania dos Estados.

    Penso que vale a pena ficar de olho nas iniciativas em torno do Banco do Sul. A América Latina é hoje o local do globo que mais condições tem de dar exemplo ao restante do mundo no que diz respeito à superação do capitalismo. O Equador, por exemplo, nem moeda tem, utiliza o Dólar diretamente. Rafael Correa sabe que a economia de seu país não pode ficar rendida à política monetária dos EUA e está fazendo o possível para viabilizar uma moeda comum para os países da nossa Pátria Grande, a América Latina.

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  2. Requião defende mercado sul-americano como forma de fortalecer economias nacionais - 16/09/2009 14:16:36

    O governador Roberto Requião defendeu a integração regional como forma de fortalecer as economias dos Estados e países do Mercosul. Segundo ele, a construção de um mercado sul-americano deixou de ser uma possibilidade de mercado para o empresário inteligente, para se tornar "imperativo categórico para sobrevivência de nossos povos".

    A criação de uma moeda própria, a redução das taxas de juros e o aumento do poder de compra dos trabalhadores foram sugeridos por Requião às autoridades públicas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, presentes na solenidade de abertura do Encomex Mercosul, nesta quarta-feira (16), em Foz do Iguaçu.

    A edição paranaense dos tradicionais encontros de comércio exterior é a primeira a reunir empresários e líderes, nacionais e internacionais. Para o governador, o evento possibilitará a realização de debates importantes sobre os rumos do bloco neste período pós-crise e deve desenvolver compromissos com as nacionalidades, convivências mais solidárias e fraternidade entre os países parceiros.

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