Por Paulo Roberto Franceschini Meirelles, de Washington (EUA)
20 de janeiro de 2009, com certeza será uma data memorável. Um dia após o feriado Martin Luther King Day, em que os norte-americanos relembram o ícone da defesa dos direitos civis e principalmente do movimento negro do país nos anos 1960. Ele discursou em seu palanque, aos pés do monumento de memória a Abrahan Lincoln, presidente-herói da unificação norte-americana e da libertação dos escravos, a seguinte frase: "I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character" (Eu tenho um sonho de que meus quatro filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas sim pelo conteúdo de seu caráter).
Barack Obama é muito mais do que um simples presidente, ele é um ícone da nação, e do novo momento que o mundo aguarda. Ele é o primeiro presidente negro do país, o primeiro que não vem de uma história de favores políticos e nem de nenhuma oligarquia. Obama não vem de uma família puramente norte-americana. Não há van que venda lembranças da cidade que não tenha pelo menos um ou mais itens com a face de Obama gravada. O metrô estampa a face do futuro presidente em seu bilhete comemorativo. Boa parte dos empregados está liberada de trabalhar nesse dia. 2 milhões de pessoas estão sendo esperadas para o evento (o distrito de Columbia tem apenas 593 mil habitantes). Casas estão sendo alugadas por mais de US$ 1000 o dia para pessoas que queiram assistir ao evento. Em resumo: a posse de Obama está sendo o maior evento do ano.
É chegado o fim de semana da posse! As festividades começam com um mega show aos pés do Lincoln Memorial. Além disso, o lugar escolhido foi o mesmo do discurso citado acima. O lugar ficou lotado e, a menos de uma hora antes do show, já era impossível a entrada no local. Começara o evento. Artistas se intercalavam com celebridades para poder relembrar pessoas importantes na história americana, principalmente pelos seus discursos. Foram citados muitos presidentes, que com suas ações puderam iluminar a mente de muitas das pessoas de hoje. Obama entra no palco descendo as escadarias. Uma multidão de 200 mil pessoas começa seu grito de guerra "O-BA-MA". Em seu discurso, o presidente reflete aquele preciso momento. O momento de milhares de esperanças somadas, cristalizadas em uma pessoa. Cheguei até a me perguntar. O que leva tantas pessoas assim a criar um afeto por um simples indivíduo. A resposta que obtive foi: não é indivíduo, mas sim o momento que ele representa. No dia seguinte, Barack decidiu que seria um dia de serviços à comunidade, de modo que ele e sua família foram pintar escolas e centros comunitários. Mas uma vez, discursos e pessoas cheias de esperança.
Finalmente, chega a terça-feira da posse. A cidade está “musical”, as pessoas nas ruas cantam, celebram. O clima é de paz, de compaixão entre as pessoas. Os vendedores de rua aproveitam este momento e vendem todos os tipos de quinquilharias que podem. Tem Obama estampado em algum lugar, vende. A cidade em si está um caos, as ruas estão simplesmente lotadas, as estações de metrô, fechadas pelo excesso de pessoas. Nas ruas, um formigueiro humano anda pelas redondezas do National Mall na tentativa de pelo menos ver nem que seja o telhado do Capitólio. Mesmo assim, é praticamente impossível, e a cada quarteirão, mais pessoas se juntam à fila.
Muitas expectativas, muitas esperanças, muitos sonhos e desejos. Ao mesmo tempo, uma história de realização pessoal e de força de vontade nos é apresentada. Relembra muito a eleição de Lula no Brasil em 2002 e todas as expectativas nela contidas.
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